quinta-feira, 13 de maio de 2010

.....A CASA IDEAL.....


O sol passeia pelo céu indiferente a tudo...Lá vou eu pela pequena rua protegendo-me de seus raios na sombra dos muros das casas. Olho para as casas, esses seres de pedra, tijolos e cimento, seres que a natureza vai “envivecendo”, pouco a pouco, em diversos matizes verdes, róseos, amarelos...em formatos diferentes de pétalas e folhas. São seres que possuem muito de humano, provavelmente pelos pulsares de corações absorvidos por suas paredes.
Há casas que se parecem tanto com seus moradores que não consigo vê-las habitadas por outros. Penso na minha casa,tão diferente de mim...grande,espaçosa com amplas janelas e portas, enquanto eu, tão pequena, tão delimitada que nem sei como consigo guardar cá dentro tantos sonhos, desejos, emoções, medos.questionamentos........
E é nessas contemplações, que num verdadeiro insight, lembro-me de quando vi uma casa que me deslumbrou, ideal, não construída no laboratório dos sonhos ,mas construída de concreto, concretamente falando.
Foi numa tarde luminosa, mais colorida que um arco-íris....céu azul, sol alaranjado, montanhas e vegetação em todos os verdes possíveis, rostos rosados e sorrisos brancos que a encontrei.Parecia estar ali,à minha espera. Encantei-me, encantamo-nos mutuamente. Parecia que dizia...”Finalmente, você veio!”. Entrei, senti-me em casa. A entrada era uma abertura sem madeira, vidros ou caixilhos...apenas uma entrada, exatamente da minha altura, nem mais,nem menos. As janelas, se assim podemos chamar, completamente livres, abertas, numa observação constante para a imensidão. As paredes pintadas de um forte alaranjado...senti que eu mesma poderia tê-las pintado, quem sabe em algum sonho perdido do qual não me recordo. E o teto? Ah, o teto!....uma tela livre em constante movimento...Que privilégio...ora estrelado, ora carregado de nuvens claras, andarilhas ou cinzentas e pesadas, ora todo azul, límpido, ora chorando lágrimas suaves,ora verdadeiros rios caudalosos.....um teto móvel com cenários variados. Mas o que me deixou em êxtase foi o chão da casa.....nada de mármores, granitos, tábuas corridas, acarpetamentos ou mera terra batida....nada disso. O chão era um simples correr de águas cristalinas, frescas e melodiosas. Parece que ainda ouço seus cantares suaves e ritmados. Não há palavras que expressem o que é estar numa casa com piso de água corrente. E tapetes? Quem disse que não os havia? Sim, eles estavam lá e muitos....grandes seixos rolados, macios como a pele, a mais bem tratada. Que maciez era roçar neles os meus pés! E como era bom pular de seixo em seixo...brincadeira acompanhada, não só pelo som do correr das águas, mas também pelas batidas compassadas do salto dos meus sapatos. Digo mais uma vez, não era uma casa sonhada, mas uma casa real, tocável.
Nada sei da sua história, dos mistérios das pessoas que lhe deram corpo e do porquê dela estar assim, devassada, aberta ao mundo, interagindo com a natureza. Talvez tenha permanecido dessa forma para não guardar segredos, angústias reprimidas, choros ou risos, sem ranger de dentes ou de portas, sem medos, sem vultos escondidos prontos a fazer o nosso coração disparar de susto. Uma casa em total e verdadeira parceria com o tempo, a natureza e alheia aos homens e às suas comodidades.
Apossei-me dela, ou melhor, apossamo-nos uma da outra. Não pude trazê-la comigo e nem habitá-la, é claro. Mas trouxe muito da sua essência e lá deixei também muito da minha. Pertencemo-nos, algo de mim lá ficou descortinando o mundo pelas janelas, refrescando-se nas águas correntes, brincando nos tapetes de pedra e, principalmente, estando à porta, como uma guerreira que protege o seu reino. Documentos? Não são necessários. A escritura está lavrada e timbrada dentro de mim. A sua liberdade e a curiosidade pelo mundo vieram comigo.
Se alguém me pergunta: “Como pode uma casa tão desprotegida ser considerada ideal?”...respondo: “O ideal está justamente nesse abrir-se ao mundo, nesse desnudar-se completo,nessa liberdade irrestrita capaz de abrigar, não um corpo, mas algo muito mais grandioso..a essência, a essência concreta, livre, única...que nunca morre”.
É como essa casa que eu gostaria de ser...livre, sem medos, aberta ao mundo, a novas experiências..... Quisera eu ter esse “ideal”...Ela sim, é corajosa....ou fizeram-na corajosa? Quanto a mim, apenas eu posso me construir, me reconstruir....E é ela quem vai permitir que eu nunca me esqueça disso.....

3 comentários:

  1. E a casa existe mesmo!!!..Mas vc está é bonita, heimmmmmmmmm

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  2. Lu, que alegria...tudo cor de rosa, é a Lu que eu conheço. Parabens
    Bom te ver

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  3. es la casa de tu libertad de la cual podrás salir o entrar en ella cuando quieras y por donde quieras
    besossss

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