Hoje acordei, “tipo assim” (ai, que essa expressão me irrita, mas aqui ela é ideal...)....com uma vontade de me confessar, não ao padre (paro e imagino o que um padre deve ouvir nas confissões...hum....acho que daria a pontinha da minha unha do dedão do pé pra saber)...
Começo, “tipo assim”....ARGH...Por que o primeiro passa é tão difícil?...até pra escrever...Preciso de um empurrão...calma, devagar....
No início, quando comecei a participar das corridas, sentia-me um tanto abandonada. Chegava lá, sozinha, via aquele povo todo acompanhado, muitos com a família completa (um corria e vinte torciam, participavam...do bisavô ao papagaio) e eu ali, sozinha, olhando de um lado para outro, com a língua coçando, mas sem ter com quem falar, uma vontade doida de fotografar, mas sem máquina (pra que máquina se não tinha quem me fotografasse?). Depois, nas conversas que eu tinha comigo mesma (o legal é que nessas conversas comigo mesma,eu pergunto, eu mesma respondo...e as respostas nem sempre vão a meu favor, sou imparcial), fui vendo que eu poderia curtir tudo isso sem ninguém, que eu poderia ser a minha melhor companhia e ao mesmo tempo, fazer novas amizades e degustar cada segundo, da entrega do kit à entrega da medalha. Fui, aos poucos, trabalhando essas idéias dentro de mim...comprei uma máquina fotográfica e deixei até de dar respostas evasivas quando, delicadamente, me ofereciam carona pra ida e volta....Assumi esse meu lado solitário e hoje, falo a verdade...”Obrigada, mas a minha corrida não começa na largada, começa às 4 da manhã quando me levanto e me preparo para sair, por isso, prefiro ir sozinha”....Tenho certeza, que quase ninguém entende (mas como... madrugar, sair ainda de noite, pegar 2 ônibus?...). Sou assim, é assim que eu sou. Se eu fosse com alguém, não participaria da despedida da noite, não conversaria com a lua, não daria as minhas boas-vindas ao sol, já a meio do caminho e não registraria esses momentos em clicks....
Gosto de chegar ao evento cedinho, observar tudo, “namorar” o ambiente, ver a chegada dos corredores e suas “cortes reais”, encher os pulmões de vida, sentir uma ansiedade saudável, ouvir o pulsar acelerado do coração, suspirar muito, tirar fotos e o melhor...perdi a vergonha e peço delicadamente que me fotografem...e ofereço meus préstimos também, afinal, a delicadeza se faz necessária em qualquer hora e lugar.
Reporto-me agora à última corrida, a CORRIDA DA MULHER, no dia 20 de março, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Foi nessa corrida que tive a certeza de como é bom esse encontro comigo mesma. Meus sentidos foram testemunhas de um acordar de vida tão bonito....o ir e vir de aves, as mais diversas, o abrir de florezinhas singelas e lilases tal qual a cor do evento, o brilho dos arbustos ainda molhados pelo orvalho da noite...Tentei que nada escapasse aos meus olhos....Fui à beirinha da água que, àquela hora, refletia artisticamente, tudo o que estava em seu entorno...aproximei-me, quase que convidada....queria também ver meu reflexo, mas lembrei-me da lenda de Narciso, tive medo e dei logo alguns passos pra trás. O Cristo, lá no seu pedestal, ainda escondido pelos lençóis de nuvens, não dormia e mesmo, sem percebermos, olhava pra tudo com atenção, protegendo-nos e abençoando-nos.
A corrida aconteceu....fotos foram tiradas...amigas encontradas...massagens realizadas...frutas degustadas......Quando, já indo embora, percebi...trânsito parado, ruas interditadas...a comitiva presidencial de Obama estava prestes a passar, alguém falou...Não acreditei.....enquanto alguns reclamavam (há pessoas que têm o dom de reclamar de tudo, da chuva, do sol, do frio, do calor...), eu exultei de alegria...Haveria forma melhor de encerrar a corrida? E lembrei de um amigo que, na véspera, me disse em tom de brincadeira: “Não se atravesse no caminho de Obama que é capaz dele sair correndo atrás de você”. E não é que ele acertou?...Só que ao contrário, a comitiva de Obama é que se atravessou no meu caminho. E tenho quase a certeza de que ele gostaria de sair da limosine e nos cumprimentar, mas só não o fez porque Michele, mulher ciumenta que só ela, não permitiu. E ela lá é boba!!......mas, brincadeiras à parte, não perdi tempo...fotografei.....
Na vinda para casa, depois de tantas emoções, os meus pensamentos eram precisos e eu, que sempre ando com os pontos de interrogação fervilhando na cabeça, dei-lhes descanso e apenas as certezas se faziam presentes...Todos, na vida, precisamos de pausas...pausas de tranquilidade, de silêncio e repito uma expressão que ouvi há pouco de alguém muito especial, que muito bem conhece a minha alma e que considerei um presente...”Você tem um desassossegado sossego”. Perfeito, tenho mesmo e nesse meu desassossegado sossego, respeito minhas pausas, não as pausas tradicionais, mas as minhas pausas.... CORRENDO...é nas pistas que faço minhas reflexões, ponderações.....que preencho meus vazios e jogo fora meus excessos...que grito o que permanece calado em mim e calo as palavras que gritam, já cansadas.....que descanso minhas pressas e atiço meu comodismo... É nessa respiração ofegante que encontro a serenidade.....É CORRENDO que me alcanço, que chego a mim.......
http://www.youtube.com/watch?v=W9n5AkJU-so
