quarta-feira, 31 de março de 2010

ANJO? TÔ FORA!!!!......


Amanheci com algo estranho me incomodando nas costas. Fui ao espelho, dei uma de contorcionista e verifiquei que havia uma pequena área do lado direito, alta, avermelhada e dolorida. Com o passar das horas, mais me incomodava e mais dolorido ficava, impossibilitando-me de certos movimentos. Seria furúnculo, espinha inflamada? Eu, heim, falar que estava com furúnculo (?), eu não... E na brincadeira, dizia que era uma linda asinha de anjo que estava nascendo. Mais delicado, daria até um certo glamour ao malvado furúnculo (ele nem era merecedor de tal mimo!). Fui ao médico...medicamentos...compressas quentes e repouso. E lá fiquei eu de molho por causa de um...furúnculo. Os amigos me ligavam para saber o motivo do meu sumiço e eu já tinha a resposta...”Estou virando anjo, já está me nascendo a asinha”!. Eles achavam graça e diziam...”Melhoras, anjinha!”. A dor se tornava insuportável, não tinha posição que me deixasse bem acomodada. Apelei para um relaxante, quem sabe, dormindo poderia descansar desse tormento. E assim fiz. Estava eu no “meio pra lá, meio pra cá” do sono, quando percebi um vulto luminoso sentado à beira da cama...Pensei...” Pronto, morri e de furunculite ou seria furunculose? Olhei bem e vi o seu semblante, lindo e tranquilo, uma miragem. Perguntei...”Quem é você, é a morte?”... Ele...”Não, sou seu anjo”. Xiiii, pensei, morri mesmo e o pior...de furúnculo! Ele riu e...”Você está bem viva, só vim para saber se está feliz para ser anjo.” Meu coração disparou...”Eu, anjo(?), era só uma brincadeira, vergonha de falar que estava com furúnculo.” Ele...”Mas, é verdade, você logo, logo vai se tornar um anjo e esse é o primeiro teste, o teste da asa. É dolorido e depois virão outros. Ser anjo não é pra qualquer um.” Conversamos por um longo tempo, afinal eu precisava saber como seria esse meu futuro de anjo, não queria cair “numa furada”, que Deus me perdôe! Fiz inúmeras perguntas, ao que ele ia respondendo até o momento em que elevou a voz... “Chega, como você faz perguntas!” E eu aproveitei...”Êpa, que eu saiba, anjos não ficam nervosos...calma!”
Conversa vai, conversa vem...vou resumir a vida de um anjo de acordo com as respostas que ele me deu...
ANJO NÃO PODE CORRER, SÓ VOAR...já não gostei, deixar de fazer algo que me dá prazer...correr....correr...correr...
ANJO NÃO SE EMOCIONA...deve ser terrível não vivenciar sentimentos: alegria, admiração, solidariedade, raiva, não poder xingar, se encantar, se emocionar...chorar, rir...Chatice total...
ANJO NÃO SE CONFRATERNIZA....devem ser solitários, coitados, como podem ficar indefinidamente, sem “jogar conversa fora”, sem falar bobagens, sem bebericar uns suquinhos, sem petiscar isso ou aquilo .....
ANJO SÓ SE PREOCUPA COM O SEU PROTEGIDO.....e se o tal protegido for um chato, um depressivo, um mal humorado...é castigo eterno para o pobre anjo....
Perguntei sobre o céu, se não havia como otimizar o céu, torná-lo mais emocionante, menos monótono. Ele se apavorou (foi quando elevou a voz)...”Como assim, céu é céu..é paz, sossego...”. E eu...”Sei muito bem que céu é céu, mas , vocês não têm liberdade pra nada. Poderiam se organizar, ter horários livres para conversar, brincar, planejar torneios (escolher o anjo que mais piruetas fizesse em pleno voo, o que maior abertura de asas conseguisse...). O anjo estava lívido, pasmo...”Você não imagina o trabalho que vocês, mortais, nos dão!” E eu...”Ué, porque querem. Como anjos, podem nos direcionar para o que é correto e, assim, diminuir o trabalho que possam ter. Certo?” Ele...”Errado! É o que fazemos, mas vocês não entendem os nossos sinais e assim, ficamos de mãos atadas. Já esqueceu que há o livre arbítrio?” Mais um pouco de papo e, com as asas arrepiadas devido à minha rebeldia, foi sumindo, sumindo...ou seria eu que estava acordando? Sei lá...
É...realmente, vida de anjo não é brincadeira, só trabalho, preocupação e sem direito a encantamentos. Não, não era isso que eu queria. Já estava resolvido, nada de ser anjo. Se o nascimento de uma asa dói tanto, imagina duas e depois de tanta dor, ainda viver em branco e preto, sem colorido... Não, por favor, quero continuar como simples mortal. Dores para ser anjo? Prefiro sentir as dores que os mortais sentem e com o direito de viver sentimentos e emoções. Quero me encantar, quero gargalhar, conversar muito, fazer mais perguntas ainda (mesmo sendo chamada de conversadeira e perguntadeira), quero sofrer por amor, ser feliz por amor, sentir ciúmes, “dor de cotovelo”, dor de barriga e até dor de dente (ai!!). Quero ter tempo pra correr (se quiser voar, apelo para a imaginação ou pego um avião), quero estar com pessoas queridas, fazer um “não tô nem aí” para aquelas meio ranzinzas, quero ser chata, falar palavrão, pedir desculpas, xingar políticos, reclamar do tempo, me achar feia e nem olhar para o espelho, ouvir elogios, me achar interessante, me perfumar, calçar um salto alto e sair de cabeça erguida (mesmo que o coração esteja choramingando)....enfim....ser gente de carne e osso, palpável, tocável, visível... Ser anjo é não ser visto, é não fazer amor (anjo é assexuado) e nem ter o direito a uma massagem mensal para intensificar o brilho das asas. Vida sem graça a de um anjo e....ainda ter que sofrer para sê-lo! Ser gente é bem melhor e com a possibilidade de encontrar alguém que nos diga...”Olá, como vai, meu anjo?” Pode ter coisa melhor? Pronto, problema resolvido, embora continue a dizer que não é furúnculo, que é uma asinha de anjo nascendo...Ainda bem que temos livre arbítrio...Anjo??? Tô fora.....

HISTÓRIA DESENCANTADA

Sou dona de um reino encantado...
Princesa de um castelo de açúcar por onde passeio minhas fantasias
Meu corpo, protejo-o com uma armadura de ferro, quase inviolável
Escondo-a com vestidos esvoaçantes e imaculadamente brancos
Na despedida do dia, os últimos raios de sol carregam-me para a torre mais alta
Lá, dispo meus vestidos e minhas fantasias
O orvalho da noite derrete o açúcar....
...e o castelo torna-se frio e feio
Tenho apenas uma armadura como morada

Ouço passos pesados, mantenho-me imóvel
O fantasma da noite vem fazer-me companhia
Prefiro não ver-lhe a cara
Ele arranca de mim a armadura de ferro
...e torna-se dono ..... do que me restou....
E, no silêncio doído, entre suas mãos, grito por ti
Como nas histórias encantadas, chegas para me salvar
Sem que o fantasma te perceba, pegas a minha alma, pequena e trêmula
Com ternura, a guardas no teu peito
E abandono o meu corpo, inerte e desfalecido
Fugimos dali num cavalo de sonho numa direção.....
.......que só a nós importa......

Aqui não há badaladas da meia-noite
O canto dos pássaros chamam os primeiros raios do sol
Levas-me, mais uma vez, para o meu reino
Devolves a minha alma aquele corpo adormecido, já com a armadura
(o fantasma de nada se esquece)
Olhas-me e triste....desapareces
Abro os olhos
Visto meus vestidos
Saio da torre
Sou novamente dona do meu reino inventado e do meu castelo de açúcar

Preciso mudar o rumo dessa história
Desfaço-me da princesa e assumo a caneta....
Acorrento o fantasma
Aprisiono-o no calabouço de algum livro velho e esquecido
Entrego o castelo de açúcar a Joões e Marias para que se lambuzem à vontade
Derreto a armadura de proteção da princesa
(já sei....derreto-a e faço as correntes para aprisionar o fantasma)
À princesa, dou-lhe liberdade
Mas...não entendo...
...ela não sai do lugar!....
Está à espera do seu príncipe....
Será que, acostumada às histórias encantadas, esqueceu que “príncipes” não existem?
“Anda, não és mais princesa..... A estrada é tua, estás livre!!!....”
Mas ela não se mexe....
Parada e amedrontada olha para um sapo enfeitado com uma correntinha no “pescoço”.....
Ainda bem....aproxima-se um rapaz de porte altivo que, percebendo o medo da moça, enxota o sapo.....
Os dois se olham, sorriem e seguem pela estrada, caminhando lado a lado....

E lá vem mais outra história...que essa não tenha fantasmas e nem armaduras.....
Chega de histórias encantadas......sem encanto nenhum......

MULHER EM VERMELHO E PRETO OU A MULHER COM A BOLSA DE VERNIZ


Unhas vermelhas
Garras que arranhavam
Que lanhavam a pele
Boca vermelha
Que salpicava flores
Pelo teu corpo
Coração-vulcão
Lavas de sangue que fervilhavam nas veias...
...vermelho

Sangue na carne...vermelho
Na tua...na minha...
A bolsa preta de verniz...Onde estava?
Perdida em qualquer canto...Não importava

Passos passados...em vermelho vivo...
De preto....apenas a bolsa
Toc....Toc.....Toc....

Olho-me agora no espelho
Não me reconheço
Unhas partidas, sem cor
Boca esmaecida, caída
Lágrimas negras de rímel escorrido
De vermelho...só os olhos...
Coração negro, enlutado
Olho-me no espelho...negra vida
Lavo o rosto
A bolsa preta de verniz, agora, ao meu lado
Lixo e envernizo as unhas...de vermelho
Retoco o rímel....essse, bem negro
Pingo o colírio....olhos vermelhos, agora não
Repasso o baton.... vermelho
O coração não dá pra colorir...continua negro...
Disfarço-o
Envolvo-o com um véu branco e brilhante
Emoldurado de uma boca, já vermelha e extravagante
Olho-me no espelho
Reconheço-me
Sigo em frente...com a bolsa preta de verniz
De salto alto, meias de seda (camuflam caminhos tortos...negros)
Toc....Toc....Toc....
Mulherzinha.....Mulherão....
Apenas uma mulher com a sua bolsa preta de verniz
Passos passantes......caminhantes.....
Ora em preto....Ora em vermelho.....
Mas sempre com a bolsa preta de verniz
Toc....Toc....Toc....

EU, OS DIAS E FERNANDO PESSOA


Recostei-me, fresca e perfumada, nas almofadas da cama. Acendi o abajour e peguei um livro. Essa é a melhor maneira de se chamar o sono quando ele parece distante e fugidio.
Li três ou quatro páginas e deixei-o cair sobre o peito. Era o sono que, obediente, me atendia? Ledo engano....Era uma avalanche de sentimentos desordenados que começaram a brotar dentro de mim. Não consegui contê-los...começaram a tomar imponência e a apertar minha garganta. Eram como mãos invisíveis que me sufocavam. Não sei de onde eles saíam....se do coração, da alma, das vísceras ou de algum ponto desconhecido do meu corpo. Lutei contra eles...ferozmente....Enxotei-os...Quis arrancá-los de dentro de mim, um a um....E eles, invencíveis, pareciam dispostos a me levar a algum sacrifício. Tive tanto medo...medo de ser devorada, pedaço a pedaço...medo de me atirarem contra a parede até que corpo e alma se misturassem...Senti-me como um pedaço de papel de seda sem asas voando no meio de um furacão. Gritei, pedi ajuda...ao meu Anjo...e ele veio...
Segurou minhas mãos e com um leve sopro, abriu dentro de mim um caminho...Com o olhar sério e autoritário, transformou os sentimentos em águas cristalinas, ordenando que se desviassem para o caminho...E as águas caudalosas não se acanharam e, como se no interior do solo estivessem, seguiram seu destino para brotarem em duas fontes...os meus olhos que o Anjo acabara de beijar...E chorei...chorei...chorei até me esvaziar de toda aquela água carregada de sentimentos.
Cansada, adormeci ainda com as fontes jorrando......
....acordei e estava ali, ao meu lado, o meu livro,encharcado e aberto onde eu pude ler....

“Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Nada há mais simples
Tem só duas datas – a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus.”
(Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa)

Todos os dias são meus...E o que eu estou fazendo dos meus dias?
Ah, Fernando Pessoa, acho que só tu me entendes! Oferece-me teu ombro e recita-me teus poemas!... Só assim de alma lavada, poderei tomar posse dos dias, dos dias que são meus....dos dias que me dizes...são todos teus,não os desperdices....

EU E O TEMPO


Ah... o tempo!... Poderoso tempo! Comandante da vida...Benevolente, amoroso, algumas vezes, mas outras, cruel e dramático...mas invencível, incontrolável...atuando dentro e fora da gente.
Tenho vontade de segurá-lo entre as minhas mãos, mas ele escorrega pelos dedos.. Tenho vontade de jogar fora ou quebrar todos os relógios, de trocar o dia pela noite, de fazer qualquer coisa para enganá-lo, fazê-lo andar conforme minhas vontades ou, até, quem sabe, fazê-lo desaparecer, me tornar intocada por ele. Ou quem sabe, poder dobrá-lo, guardá-lo no fundo de uma gaveta e esquecê-lo. É o cúmulo do devaneio, sei bem... mas, de alguma forma, não sei como, consegui ludibria-lo. Consegui? Não, ele permitiu ser ludibriado, ele o quis, não eu. Explico. Tenho consciência de que sou uma mulher que já percorreu um longo caminho, acumulou experiências...boas, más, péssimas, que sofreu, foi feliz...Essa é a mulher que se apresenta ao mundo, a que todos conhecem, mas é apenas uma parte daquilo que sou na íntegra. Essa mulher não está só, existe uma outra pessoa, bem aqui dentro, com o mesmo tempo de estrada para quem o tempo tem passado lentamente. Essa, não se tornou uma mulher, ela continua uma menina, menina irriquieta, atrevida, bem humorada para quem a vida é uma eterna festa. As duas convivem muito bem, conversam, se aconselham, mas cada uma sabe o seu lugar, os seus limites, a sua hora e a sua vez. Essa menina aprendeu muito com a mulher, deixou de lado aquela inibição de quando tinha pouco tempo de estrada, se tornou mais questionadora, extrovertida... E a mulher, por sua vez, aprendeu com a menina tornando-se menos preconceituosa e se policiando para não se perder em rabugices e manias próprias de quem já trilhou um longo caminho. Mas há algo que me assusta. Por enquanto, elas se encaram, se confrontam e se veem uma na outra, estão ajustadas. Daqui a um tempo, talvez ao se defrontarem, tenho medo que já não se reconheçam. A mulher, já mais atingida pelo tempo, será que terá coragem de encarar a menina, tão jovial nas idéias e nos sonhos? E a menina, por sua vez, cheia de vida e de vigor será que aceitará ter naquela mulher com marcas profundas do tempo a sua roupagem, a sua vestimenta? Esse é o meu medo. Ah, o tempo!.. Bem que a partir de agora ele poderia agir ao contrário, ser mais atuante na menina, tornando-a menos sonhadora e mais realista...e ser mais preguiçoso com a mulher, permitindo que a vida não lhe deixe marcas tão acentuadas. Aí, sim, seria atingido o equilíbrio. Mas, isso não sendo possível, afinal o tempo é onipotente, torço pela menina, que ela vença sempre e se chegar o dia em que a mulher esteja se tornando ranzinza, que seja nocauteada pela força de viver. E se com esse nocaute, os “vexames” surgirem, que todos eles sejam com classe e elegância, sempre de “salto alto”, sem vulgaridade e isso eu não dispenso (afinal, a menina aprendeu muito com a mulher!). Que elas se entendam, que entrem em acordo, que a mulher permita que a menina esteja no comando, será bom para as duas. E ao se defrontarem no espelho que se reconheçam....que a mulher tenha no olhar e no sorriso o brilho e a graça da juventude e a menina tenha nos atos, por mais irreverentes que sejam, a sabedoria e a elegância da maturidade.
É isso que desejo para mim, é isso que desejo às mulheres...Penso que assim estaremos de bem com a vida, independentemente do trecho que estamos trilhando nesse longo e muitas vezes, tortuoso caminho....de ser e se sentir mulher!!

terça-feira, 30 de março de 2010

EM DOIS TEMPOS....

Brinquei de panelinha, fiz batizado de boneca
Escutei música... de ouvido colado no rádio
Li livros às escondidas, sonhei com príncipes encantados
Virei princesa, conversei com as estrelas
Dei aula pra índios, fui árvore frutífera
Fui bicho no cio, fui vassoura, tanque e fogão


Descobri que o cavalo do príncipe
Era feito de monóxido de carbono
A princesa que só andava na garupa...morreu
Transformei-me em bruxa
Fui queimada na fogueira
Mas ressurgi, qual Fênix, das cinzas
E continuei a conversar com as estrelas

Hoje, vez ou outra, venho ao quarto
Fecho tudo e pego a minha mala de couro enrugado
e cheia de naftalina por causa das traças
Tiro tudo isso de dentro dela e limpo com carinho
Escondo de novo
Apenas uma rosa me acompanha nesse tempo todo...
Plantei-a na infância
Cultivei-a na juventude
E agora,mulher, ponho-a nos cabelos presa por dois grampos
Todas as noites, ela “envivece” ao lado da cama numa jarra de água fresca
E o dia em que ela começar a murchar, a despetalar?
Aí, pego um lenço de seda, deposito nele suas pétalas sem vida e enterro num vasinho
[branco
Vai ficar ao lado da cama onde ficava a jarra de água
Com os dois grampos que a acompanharam, farei uma cruzinha e colocarei em cima
À noite, rezarei uma Ave Maria e regarei a terra com lágrimas...
........de alegria ou tristeza....tanto faz
Quem sabe, um dia, ao amanhecer, não comece a brotar ali, ao meu lado,
[uma nova rosa?
Mas enquanto isso....enfeito-me com ela e continuo a conversar com as estrelas.....

domingo, 28 de março de 2010

RETRATO EM PALAVRAS


Oi, uma boa tarde...
Cá estou eu, meio tímida, chegando devagar, olhando para os lados....É complicado chegar a uma nova casa, sem conhecer a vizinhança, sem saber como serei recebida.....Nem sei por onde começarei a arrumação dos meus pertences. Tenho apenas um espaço...vazio e sem a minha assinatura. Tentarei, aos pouquinhos, mostrar um pouquinho de mim.....em cores, formas e se, possível, acrescentar um cheirinho bom e algum sabor....
Desculpem, comecei com um bla bla blá e não me apresentei...coisas de quem tem as palavras saltitando e, por isso, às vezes, "se atropela" um pouco, melhor dizendo...sou atropelada pelas palavras....Ponho a culpa nelas.....

Sou feita de detalhes e detalhes bem detalhados. Gostaria de dar respostas monossilabadas, de me ater a “sins”, “nãos” ou, no máximo, a frases de 4 ou 5 palavras. Mas não...sou feita de detalhes.. e de muitas palavras. Gosto de colorir substantivos, tirar-lhes o tom cinzento da solidão, adjetivando-os. Adjetivar substantivos é dar-lhes beleza e personalidade....Uma flor é apenas uma flor. Para se tornar “a flor”, ela precisa de características, afinal, toda flor é vaidosa e gosta de se diferenciar de outra flor. Faço-lhe o gosto, a ela e a todos os outros substantivos.
Meus verbos não gostam de rotina. Sofrem da “Síndrome da transitividade”, precisam de complementos. Dou-lhes todos e ainda, mimo-os com os advérbios, modificando-os. A simples ação de cantar, de dormir, de limpar pode ser enriquecida com um tempo, um modo, uma companhia.... Com complementos e circunstâncias, saem os verbos da mesmice do dia-a-dia, imponentes.
Na seriedade do escrever e do falar, brinco com as idéias, jogo com as palavras e ponho, em cena, as figuras de linguagem. É quando o sol, preguiçoso, boceja; é quando ouço o repetido “pouca terra, pouca terra, pouca terra” do trem que chega bufando à estação .... E nesse palco recheado de conotações, vou me disfarçando, rindo pra não chorar, gritando um “NÃO” querendo sussurrar um “sim”, congelando meu coração, caminhando, muitas vezes, sobre brasas,......
Falando em caminhar....meus caminhos são muito pontuados...São entremeados de vírgulas (pausas se fazem necessárias): ponto e vírgula (como se fosse uma soneca ao fim do almoço); pontos de interrogação que podem vir acompanhados de exclamações com todas as entonações necessárias, alem de caras, bocas e olhos arregalados... Em meio a tudo isso, há os parênteses e é dentro deles que guardo o que me é mais íntimo....Sou fã dos apostos, uso e abuso deles, gosto das coisas bem explicadas e especificadas com todos os pingos nos “is”. Mas não esqueço os vocativos...tudo e todos gostam de ser chamados por seus nomes, se não os sei, invento-os.
Agora, o que mais gosto são as reticências.... Sou uma mulher sem conclusões, sem verdades definidas ou definitivas, cheia de dúvidas, com o pensamento sempre inacabado e em constante movimento.... e vou deixando espaço para concluir mais tarde ou para, quem preferir, concluir o que eu não soube (mas não por mim)....
O ponto final, deixo-o para o final do meu “grande texto”. E até nessa hora, as minhas “orações” não serão simples, serão compostas e cheias de conjunções. Coitado de Deus quando for me julgar, analisar meus períodos de vida, a maioria, compostos e complexos.... o que fui, o que coloquei entre aspas, o que destaquei em negrito, o que deixei de sublinhar.....Já O vejo com as mãos na cabeça dizendo : “Você foi feita de tantas palavras....Agora sei o que é ter uma bíblia nas mãos e ser obrigado a lê-la!....” E eu, atrevida, não me calarei...”Você,meu Pai, pelo menos,não teve o trabalho de escrever Suas palavras, escreveram-nas pra Você. As minhas, não,...foram escritas de próprio punho, literalmente.... gastei foi saliva, suor, lágrimas, lápis e muito papel...Isso sem contar as unhas quebradas na digitação e os olhos cansados frente a uma telinha de computador. Palavras que foram escritas em linhas,muitas vezes, sinuosas, nas quais, para me equilibrar tive que rebolar, não no sentido denotativo da palavra, entenda bem!....”
Acho que nem nessa hora vou fazer uso do ponto final, pois Deus ficará um bom tempo refletindo, pensando na minha sentença (será que vou para o quarto escuro ou ficar de cara pra parede com orelhas de burro??...dúvidas cruéis...espero que Deus seja adepto da psicopedagogia contemporânea...). Enquanto isso, continuarei nas reticências.....dando-Lhe todos os detalhes e explicações necessárias...e as que não forem, também, é claro............

Pra facilitar, sou a Lu...Simplesmente, apenas Lu...Fácil, não!!!!