Hoje, 15 de outubro, dia do professor. Da sua importância, muito já foi falado, escrito, cantado e até...desrespeitado....Não farei apologia ao papel do professor na sociedade e na formação das novas gerações. Seria chover no molhado....Faço apologia a um outro papel, papel mesmo, feito de celulose, ou melhor, a muitos papéis que, todos juntinhos, do mesmo formato, tamanho e protegidos por um outro papel mais resistente, colorido e com figuras, faz parte da mochila de toda criança. Digo criança, pois os mais velhos, adolescentes e adultos, parece que o estão deixando de lado – o velho e mágico CADERNO. Seja ele pequeno, grande, “deitado”, “em pé”, pautado ou não, encapado e etiquetado ou não, lá está ele, generoso, se oferecendo totalmente imaculado às mãozinhas que, irriquietas, começam seus rabiscos, desenham um “a e i o u”, ainda disforme e voando acima das linhas como gaivotas que começam, desajeitadas, a alçar os primeiros voos. Como são lindos esses cadernos, principalmente, quando têm manchas de dedinhos de chocolate ou até cheiro de batata frita (que os pequerruchos nunca ouçam isso, senão abusam, os peraltas). Tenho saudades desses cadernos que protagonizaram tempos felizes. Tenho saudades de ver olhinhos brilhando correndo na minha direção para perguntar se o nome ali “escrito” estava bonito. Claro que sim, mesmo que o tal nome fosse apenas um traço ainda sem direção. E era nessa folhinha com riscos e rabiscos, que começava o nascimento de um cidadão. A festa estava formada: elogios, abraços, beijos babados e sorrisos...e lá no cantinho da página, o recadinho que o pequeno, curioso, perguntava o que estava escrito...”Que lindo! Amo você!!” e um coraçãozinho era também desenhado. Coisas tão simples que deixavam aquele pinguinho de gente feliz da vida e cada vez mais interessado em aprender.... Esse mesmo caderno ia, depois da aula, passar de mão em mão......da mãe, do pai, do tio, da avó, da madrinha...e até daquele irmão mais velho que, enciumado, implicava...”Não sabe escrever, não sabe escrever!”....Os cadernos que mais me emocionavam eram aqueles que não tinham mãos em casa que os desfolhassem, que, talvez, nem saíssem da mochila, a não ser na sala de aula. Cadernos que perdiam a capa antes do tempo, que tinham folhas amassadas e muitas manchas e cheiro de gordura, mas que eram trazidos até mim com a mesma alegria de mãozinhas buliçosas e o mesmo brilho no olhar. Nesses cadernos os bilhetinhos adquiriam um significado maior. Esses cadernos me encantavam, pequenas folhas de papel que podiam estar começando a fazer toda a diferença na vida daquele pequeno ser...ali poderia estar começando a ser desenhado mais que uma garatuja, mas um futuro promissor, uma história de vida mais feliz...Eram os primeiros passos incertos, cambaleantes ainda, mas definitivos na trilha de um caminho tão incerto.
O professor nunca saberá o itinerário que esse caminho irá seguir. Não importa. Ele sabe que tem o privilégio de mostrar aquele cidadãozinho que poderá ter um caminho florido. Pena que nem todos os caminhos o serão....
Por isso, professor, independente dos cadernos que possam passar pelas suas mãos e mesmo que não haja cadernos, semeie, mas semeie com amor, dedicação, entrega e alegria. A escolha foi sua. A colheita, provavelmente, você não verá. Mesmo assim.seja um ótimo semeador, o melhor que puder ser. Talvez um dia, você numa esquina qualquer, um homem ou uma mulher venha na sua direção, não trazendo um caderno nas mãos, mas um grande sorriso de emoção e pergunte: “Oi, professor, lembra de mim?” Talvez você lembre, talvez não.....Que importância isso poderá ter? Importa que ele ou ela lembrou de você e você poderá dizer com orgulho e satisfação...”Eu soube fazer a diferença!!”
Parabéns, professor! Parabéns, colega!!
E você, meu querido amigo, eleve um pensamento positivo aqueles que souberam fazer a diferença na sua vida....nem que tenha sido uma pequenina diferença...foi o melhor que eles puderam fazer.....tenho certeza disso....
http://www.youtube.com/watch?v=y-ZaQkPnf4k
Eu, no dia da minha formatura de escola normal...Sabem que eu fiz o juramento oficial em nome de todas as normalistas que estavam se formando nas escolas oficiais do Rio de Janeiro, no Maracanazinho?? Vou procurar a foto...
Na foto colorida, alguns poucos aninhos mais tarde, um encontro realizado em 29/agosto/2010 entre professores e alunos da escola Getúlio Vargas, minha primeira escola...reencontrar antigos colegas e alunos, antes, pequenas crianças, agora já homens e mulheres...EMOÇÃO SEM PALAVRAS, INEXPLICÁVEL....
