quarta-feira, 28 de abril de 2010

....DIÁRIOS DE CORRIDA...CORRIDA PAN-AMERICANA...29/NOVEMBRO


Hoje fui mais esperta que o sol. Antes que os seus primeiros raios empurrassem a escuridão para o outro lado, lá fui eu “acompanhada de mim mesma” para mais uma corrida, a Pan-Americana. Saí de casa às 5:30h debaixo de uma chuvinha fina e enfrentei 2 ônibus (um parênteses cabe aqui...deu resultado o meu lero-lero com o sol. Pedi-lhe que se poupasse, que se aquietasse...e ele CONCORDOU...e encarregou as nuvens que me dissessem que ele ficaria sossegadinho...e entendi o recado..Ah! chuvinha boa e refrescante, nem abri o guarda-chuva pra sentir as gotinhas suaves na pele). Não imaginava que àquela hora e em pleno domingo, os ônibus andassem tão cheios e durante a viagem fiquei emendando pensamentos e possibilidades sobre o destino daquele gente de jeito simples, mas de uma garra digna de reis.
Cheguei ao Aterro do Flamengo às 7:10h (ai, que alívio, não gosto de atrasos e um atraso aqui seria fatal, seria a volta pra casa com a desilusão pendurada ao peito). Deixei minha sacola no guarda-volumes e aproveitei o tempo para admirar e absorver toda a beleza daquele lugar.....tudo estava tão verde, de um verde de todas as tonalidades, de arbustos floridos, de pequenas moitas coloridas, de imensas palmeiras.... e em meio a isso tudo, o contraste..o monumento aos mortos da segunda guerra...a força e o colorido da vida, lado a lado ao respeito e à saudade pelos que se foram lutando pela Pátria. Tão linda quanto a paisagem verde e multicor era a paisagem humana que, a cada minuto, ia sendo acrescida.....Ali não interessava a idade e nem a classe social, todos eram apenas seres humanos...corredores, amigos, familiares, crianças, muitas, tão pequeninas que nem tinham ideia do que estavam ali fazendo ,mas todos, todos mesmo lá estavam e muito entusiasmados, emanando uma energia do bem..... Seriam todos, tão magnanimamente felizes e bem sucedidos na vida? Com certeza não..mas uma coisa é certa......aquelas pessoas não são de ficarem paradas, todas correm atrás de algo que lhes dê ânimo..e na corrida dramatizam o que vivenciam na vida real, o não entregar-se, o prosseguir, o buscar...Claro que há inúmeras maneiras de se fazer isso, mas hoje, em especial, a maneira encontrada pelas mais de 4 mil pessoas foi essa..correr... e correndo era como se cada um dissesse...”EU POSSO, EU QUERO, EU SIGO, EU CONSIGO...”.
Assisti a largada dos grupos de elite masculino e feminino e de pessoas portadoras de necessidades especiais..e em seguida, ao som de muita musica, de palmas, de gritos e de muita alegria, largamos nós e foi aí que realmente começou a festa.... e o vírus do entusiasmo começou a se disseminar pelos ares e a contagiar os que a tudo assistiam. A pista do Aterro do Flamengo (não podia ser Aterro do Vasco?...), de um momento pra outro, tornou-se branca, de um branco mais que um branco da paz, mas de um branco que cada corredor trazia na alma, um branco que era a mistura bem misturadinha de todas as cores do arco-iris, as cores de todas as alegrias, de todos os sonhos, de todos os quereres....E a corrida ia acontecendo, bonita, animada, com o sol escondidinho e bem protegido pelas nuvens e o ventinho...ah! que delícia, mesmo quando ele brincava conosco e soprava ao contrário. E lá íamos nós, cada qual no seu ritmo e nas suas possibilidades e a cada vez que um corredor ultrapassava o pórtico da chegada, era como se ele gritasse...”EU POSSO, EU QUERO, EU SIGO, EU CONSIGO...SOU VITORIOSO AQUI E NA CORRIDA DA VIDA”....Correr é mais do que caminhar com maior velocidade e resistência..... é mais uma maneira de se aprender a viver mais feliz e mais confiante......E cada um tem que encontrar a sua.....

...NOVOS RUMOS.....


Quero fechar minha casa
Livrar-me de todos os fantasmas
Sair por aí afora, correr riscos e perigos
Procurar um novo destino

Quero ir muito além do horizonte
Procurar caminhos desconhecidos
Preciso voar, usar a mente
Com os sentimentos fortalecidos

Quero usar meus próprios pés
Abrandar tempestades do coração
Marcar minhas próprias trilhas
Mesmo com lágrimas, mas já sem ilusão

Quero desbravar selvas de dor
Descobrir aonde se esconde esse tal de amor
Explorar rios, grutas, mares sem fim
Talvez encontre o que foi se perdendo dentro de mim

Quero sair pelo mundo
Jogar fora o relógio do tempo
Esquecer o caminho de volta
Fazer de cada segundo o meu momento

Quero refazer, reconquistar meu próprio EU
Cicatrizar antigas feridas
Cortar o laço com o passado
E recomeçar, ter um novo ponto de partida

sexta-feira, 23 de abril de 2010

....MULTIDÃO......

Gosto da multidão. Gosto de me misturar àquela gente toda, gente sem histórias visíveis, sem sentimentos na cara, sem emoção no olhar.....caras sem identidade. Gosto de ver os andares, os vestires...É difícil ver os olhares, olhares ausentes ou metidos no chão. Não sei que graça esses olhares encontram no chão. O chão não me interessa. Interessam-me as caras e é pra elas que vou tecendo histórias, inventando nomes, amores, encontros, desculpando ausências .....Todas essas caras estão na minha mão. Sinto-me um deus, faço e desfaço, crio vidas sem me importar com vontades.
Sento-me na calçada para observar melhor. Inventar vidas não é coisa simples, mas faço..... Paralelamente à minha criação está a trilha sonora de qualquer multidão urbana que se preze, as vozes dos ônibus e carros...vozes barulhentas em todos os tons possíveis e imagináveis, vozes que não se calam nem por um segundo. Talvez sejam os gritos das mulheres que esbravejam as rudezas da vida, gritos de homens estressados e impacientes, gritos de crianças que querem chegar logo em casa pra brincar, gritos de mocinhas incautas que querem adiantar o relógio para o encontro com o príncipe encantado, gritos dos velhos que,com medo da morte, clamam por mais tempo de vida. E eu fazendo a leitura desse vozerio e manipulando minhas marionetes-gente.
Em meio à minha criação, uma voz diferente de todas se fez ouvir...um tilintar ao meu lado. Alguém passou e vendo-me ali sentada, atirou-me ao colo, algumas moedas. Quem grita e esbraveja agora sou eu e com a minha própria voz...”Como? Dar vida e alma a tantas caras não tem preço não,moço!”. Ofendi-me, olhei o insensível e lá ia ele a passos firmes, “enternado” com uma maleta 007 (será que há alguma mais moderna? mochila não tem glamour....rsrs) com ares de quem quer e pode comprar meio mundo. “A mim não, violão!” Levanto-me, jogo as moedas no bueiro (reconheço que não foi uma atitude ecologicamente correta.....perdão!) e vou embora. Minha criação tinha sido interrompida, deixei de ser um deus. Pobres caras que continuarão sem histórias nessa história...
Resolvo caminhar.....Agora sou mais uma cara sem alma nessa multidão. Chego a um jardim. Sento-me num banco. Ali não é necessário criar. Tudo tem vida. Tudo é vida....as flores, o gramado, as árvores.... E a vida mais linda... almas com identidade...as crianças em suas brincadeiras e vozerio alegre, as mulheres nas conversas de comadres,os casaizinhos que, sussurrando, devem estar fazendo juras de amor eterno, os pássaros que, ouvindo tudo, espalham as novidades uns aos outros com seus gorjeios. E eu ali, sentada....uma cara inexpressiva. Carrego em mim toda a multidão que por causa de algumas moedas ficou sem vida. Eu sou a própria multidão...sem nome, sem história, sem sentimento...destoando de tudo que ali existe.....

quinta-feira, 22 de abril de 2010

......UIVOS NA MADRUGADA......


Uivos saem da boca da madrugada
Talvez sejam cães que acompanham os bêbados cambaleantes vindos dos bares
Talvez fantasmas fugidos de pesadelos suados que se debatem entre lençóis
Talvez a voz dessa trêmula sombra na parede que teima em me encarar todas as noites

Esses uivos não me assustam
Pra mim, são uivos de um lobo que, encantado,
.......declara seu amor à deusa que se esconde na lua
Uma deusa, fingindo-se de tímida, que o seduz em noites de lua cheia
Invejo-a.....
Ordeno à sombra da parede que se vá
...e que se transforme em nuvem pesada e cinzenta
Grito-lhe: “Vai, engole o luar!”
Só assim, terei todos os uivos para mim
Quero que o lobo perceba que a silhueta que mora na lua não é a de uma deusa
É a presença de São Jorge ferindo com sua lança o dragão...
Ah, São Jorge! Empresta-me a tua lança!......

DIÁRIOS DE CORRIDA....CIRCUITO DAS ESTAÇÕES ADIDAS, ETAPA VERÃO - 6/DEZEMBRO/2009

Prometi que a cada corrida, escreveria algo alusivo à mesma. Que palavras usar para definir cada emoção vivida sem ser repetitiva? Impossível! Emoção, cada uma é uma, para quem as vivencia e defini-las todas as vezes de forma criativa, é trabalho árduo....Dessa vez não me deterei na corrida em si, mas no antes e no depois, no ir e no vir....
Realmente, há mundos paralelos....enquanto um descansa, dorme, o outro fervilha. E assim são as madrugadas de domingos vivenciadas dentro dos transportes coletivos. Peguei o primeiro ônibus antes das cinco e meia e, não riam....fui em pé. Descobri que é dentro de um ônibus, antes do amanhecer, que diferentes tribos se encontram...a tribo que vem do trabalho, sonolenta (bem, eu acho, né...), a que vai para o trabalho (seja ele qual for...), a tribo “barra-pesada” vinda dos bailes, a tribo do “eu sozinha” que vai correr...e outras que nem faço idéia que nome possa lhes dar .... Silêncio? Nada disso, um falatório só...a menina-adolescente que jura, no próximo baile, levar uma lâmina escondida nos cabelos (no meu, nem um mísero piolho eu conseguiria esconder).... as risadas de todos quando um sonolento, não se aguentando, caiu do banco..... um lá atrás que pergunta algo ao que estava lá na frente..... outro que grita ao motorista pra parar naquela determinada esquina...e por aí vai.... Viagem animada e eu ali, quietinha, rezando pra estar invisível a todos.
Desço do primeiro ônibus no ponto final e para abrir meus horizontes quanto aos itinerários, perguntei a um motorista que opções eu teria pra chegar ao Aterro do Flamengo. Foi quando uma senhora, fiscal da empresa, veio na minha direção e disse: “Lucinda, que surpresa alegre te encontrar depois de tantos anos!” Fiquei sem ação, não a reconheci e ela mais do que depressa, : “Você foi professora do meu filho, o “X”, lembra? “ Numa verdadeira maratona pela memória, lembrei-me dela e do filho (um reencontro tão distante de casa ou do trabalho não é fácil acontecer), já agora formado e prestes a se casar. Foi um reencontro curto, mas emocionante...Conversamos rapidamente e de acordo com a orientação dela mesma, peguei outro ônibus. E mais uma vez, fui em pé até um pouco antes da Rocinha. Já sentada, vi, ônibus adentro, um par de pernas que deveriam ser maiores do que eu e...que lindas pernas! Um mulherão de quase dois metros de altura sobre um salto de um outro tanto...um monumento vestido com um pedacinho de tecido de uns dois palmos e meio. Os assobios, os “ohsss” se fizeram ouvir e a cândida mocinha foi sentar-se no banco ao lado do meu. Curiosa, queria ver se ela era tão bonita de rosto quanto as suas pernas, mas não queria olhar diretamente, é claro.... Disfarcei daqui, dali e, de rabo de olho...olhei...E em meio a uma cabeleira encaracolada e quase até à cintura, estava.... estava...uma cara masculina...um homem.....e sem maquiagem alguma!!.... Simplesmente, olhei para as minhas perninhas, tão nanicas, tão raquíticas, tão sem encanto se comparadas aqueles pernões imensos... Como pode um homem com aquelas pernas? Hormônios femininos produzidos em laboratório? Mas, e os meus hormônios que são naturais?? Ora, bolas....serão os meus, genéricos ou falsificados??? Ele ou ela, sei lá como falar, encolhia-se no canto do banco demonstrando muito sono e cansaço. (eu de rabo de olho, ia observando). Comecei a pensar na vida que essas pessoas devem levar, nos preconceitos, nas dificuldades... Deve ser muito difícil para eles encontrarem a felicidade, a aceitação... Não, isso não..Neguei-me a pensar e obriguei esses pensamentos a se recolherem. Nessa manhã, apenas pensamentos felizes poderiam habitar minha mente.
Cheguei ao aterro...o ambiente se alaranjando a cada minuto, muita movimentação, figuras bizarras que sempre participam das corridas e lhes dão um ar de descontração e espetáculo, muita alegria...blá, blá, blá....e todos se preparando pra largada que é sempre pontual. Na passagem exata pelo quilômetro quatro, o sol não se aguentou e, de repente, surgiu nos saudando...Foi quando uma voz masculina manifestou seu aborrecimento...” Mas que mer...de sol agora...”. Imediatamente, em pensamento, comuniquei-me com o sol...”Não esquenta, não, amigo,é assim mesmo, nós, humanos, falamos bobagens, mas não é por mal”. O sol entendeu e não esquentou com o que o corredor falou e se recolheu pra não nos esquentar.
Arrepios ao atravessar o pórtico, emoções à flor da pele, blá, blá, blá..... Ainda demorei bastante tempo por ali, vivenciando cada segundo...e voltei pra casa...de ônibus novamente. Não mais em pé, sentei-me ao lado de um rapaz que começou a me perguntar pela corrida e pelo meu desempenho. Começamos a conversar e nesse troca-troca, ele me disse que também tinha participado. Ele já de roupa trocada e eu, ainda com a mesma, fiquei sabendo que é um maratonista campeão e que nessa corrida havia conquistado o terceiro lugar....Encantei-me com a história dele, um menino pobre vindo da Paraíba, suas dificuldades na vida e pra encontrar patrocínio, sua disciplina nos treinos (segundas, quartas e sextas, 15 km de corrida de manhã e mais 15 à tarde...terças e quintas, 15 de manhã e à tarde,musculação), a felicidade de subir no pódio já tantas vezes.... Foi um presente pós-corrida muito especial, tenho suas palavras e sua expressão de conquista memorizadas. Que estímulo pra mim!.... Ele desceu do ônibus e eu prossegui pra descer no shopping e almoçar (como eu gosto da minha companhia!) Aproveitei e comprei umas coisinhas, presenteei-me, afinal,era merecedora....E mais um encontro..Encontrei um casal de amigos que já não via há algum tempo e, conversa vai, conversa vem, ele me disse que já não corria há mais de 10 anos e que estava entusiasmado com o meu entusiasmo...Recebi hoje um telefonema da minha amiga e ela me disse que na segunda-feira, o marido tinha voltado a caminhar e que logo recomeçaria na corrida..Fiquei imensamente feliz com isso....
Essa corrida foi mais que uma corrida, foi um ir e vir, totalmente alaranjado, com encontros, reencontros, momentos únicos e muita injeção de ânimo, pra mim e pra quem, por acaso, cruzou o meu caminho. Que bom....Fui...Corri...Conquistei....e vim....feliz...E já penso na corrida do próximo domingo, dia 13.....E toma mais emoção....Gosto disso...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

DIÁRIOS DE CORRIDA...RIO EM MOVIMENTO...7/NOVEMBRO/2009


DELICADEZA.........ARTIGO RARO NO MERCADO.....

A Terra gira, o tempo corre, o mundo se transforma, as pessoas se adaptam...mas a essência do ser humano se perpetua, talvez pela necessidade de sobrevivência da espécie. Sempre foi assim, suas inquietações, suas perguntas cada vez mais complexas vão, pouco a pouco, tornando-o quase um semi-deus. . E com tanta empáfia, parece que atitudes e valores simples vão se diluindo num mar de modernidade e tecnologia, ficando à margem do humanamente correto. Isso está acontecendo com a delicadeza. Delicadeza, muitas vezes considerada desnecessária e até empecilho para galgar degraus na busca do sucesso, de um melhor emprego ou algo semelhante.....Parece que palavras e expressões que nos foram ensinadas estão sendo esquecidas, desaprendidas ou mesmo, rejeitadas....são os “obrigada”, os “com licença”, os “por favor” que se perderam em algum recanto de uma educação em desuso. Não é propriamente o falar que está fazendo falta, são as atitudes. Estamos carentes de olhares ternos, de sorrisos amigos, de toques de mãos reconfortantes, de abraços firmes.....e de palavras sinceras (nunca o amor foi tão falado e tão pouco vivido).
Há situações que promovem a união, independentemente de raça, credo, ideologias políticas ou nível sócio-econômico-cultural. O esporte é um facilitador desse congraçamento, mas o ser humano é antes de tudo, um ser humano e pra onde ele vai, carrega o seu caráter, a sua índole, o seu EU verdadeiro.
A corrida é um evento cheio de energia positiva, de solidariedade (palavras de estímulos são comuns entre os corredores, mesmo sem se conhecerem). Ali, todos estão para serem felizes, é uma competição onde cada um compete consigo mesmo e com seus limites. Somos competidores para os quais o pódio almejado é a finalização da corrida e a medalha para pôr ao peito a um grito de “CONSEGUI!” (o outro pódio é para os profissionais). Mas, .ser humano é ser humano.... e mesmo com o calor abafado na hora da corrida, algo mexeu comigo e foi pior que o calor....a falta de delicadeza...Estávamos no início da corrida, quando uma "corredora" (ponho entre aspas, porque ela não tinha o espírito positivo dos corredores) querendo me ultrapassar passou por mim com um encontrão dizendo.."sai da frente, porra"... Mesmo boquiaberta com o que acabava de presenciar e sofrer ainda falei... "com licença, desculpa e muito obrigada ainda estão na moda"..ao que a tal respondeu.."Vê se aqui é lugar pra ter educação"...Depois dessa, falar o quê? Mas, tudo bem, isso me deu mais disposição, pois corri mais feliz, ciente de como é bacana sermos gentis em qualquer situação. O rapaz que corria ao meu lado, tocou no meu ombro e disse..."não ligue, gente grosseira há em qualquer lugar"...Falou e disse....
Após a corrida, gostaria de tê-la encontrado para dar-lhe os parabéns pela finalização da mesma e pela medalha que, com certeza, teria ao peito. Não a vi...Que ela encontre pelo caminho muitas pessoas delicadas...Quem sabe assim, ela possa entender, sendo tratada com delicadezas, como é bom ser gentil com as pessoas, sejam elas conhecidas ou apenas rostos nunca vistos. Todos temos nossos dias sombrios (prefiro pensar que ela estava num desses dias sombrios), nossas horas em que esquecemos gentilezas, principalmente com aqueles que conosco convivem...mas a maior gentileza, nesses momentos, seria um..”foi mal, desculpa, tá...”. Temos que pensar e refletir sobre isso para podermos falar que fazemos parte de um grupo de seres humanos que fazem valer o significado de atitudes delicadas....Não, a delicadeza não está fora de moda, nunca ela foi tão necessária, tão vital para sobrevivermos à desumanização de uma época em que mesmo depois de horas conversando com alguém não sabemos dizer qual era a cor do seu olhar e não nos lembramos da musicalidade da sua voz.......

domingo, 11 de abril de 2010

O RIO ESTÁ DE LUTO...

E o Rio ainda chora seus mortos e conforta os desabrigados.... pelos dados oficiais são 229 mortos, mais de 100 desaparecidos e 11.000 desalojados. E a todo momento nos fazemos a célebre pergunta de Carlos Drumond de Andrade...”E agora, José?”. A resposta vamos buscá-la em 1755, quando, após o terremoto que assolou Lisboa, o rei D. José faz pergunta semelhante ao General Pedro D’Almeida, o Marquês de Alorna... A resposta foi clara e objetiva...”SEPULTAR OS MORTOS, CUIDAR DOS VIVOS E FECHAR OS PORTOS”...Portos? Tantos portos, de todos nós, governantes e povo... do interesse político, do desvio de dinheiro, da corrupção, da falta de respeito ao povo, dos currais eleitorais, do comodismo, da falta de conscientização ambiental, do “esperar sentado”,................
Muito precisa ser feito, solidariedade é importante, mas não é tudo........Há que agir, de todos os lados e em todas as frentes, antes que outra tragédia nos surpreenda. Surpreenda? Bastava querer ver....Nós não víamos ou fingíamos não ver...os governantes viam, mas disfarçavam, afinal..os votos e os interesses políticos sempre falaram mais alto do que a dignidade..... Até quando????? Não faço a mínima idéia.......E enquanto isso, ao lado das reportagens sobre a tragédia, vemos na TV as propagandas eleitorais bem montadas, verdadeiros photoshop da realidade...e, ao nosso lado, pessoas que continuam jogando papéis e latinhas pelo chão....SOLIDARIEDADE É IMPORTANTE, MAS A RESPONSABILIDADE, A CONSCIENTIZAÇÃO POLÍTICA, SOCIAL E INDIVIDUAL É FUNDAMENTAL. Não quero me sentir constrangida por não ter sofrido perdas e estar levando a vida normal que levava antes da catástrofe...as cenas de sofrimento e destruição estão e estarão nítidas na minha memória por muito e muito tempo...Que a alegria do carioca não se perca.....pois agora, todos os sorrisos estão adormecidos.....Acordemos nós, então!!!......

MEIA MARATONA INTERNACIONAL DO RIO DE JANEIRO...6/SETEMBRO/2009



A noite parecia interminável. Nada do céu se alaranjar. Só cochilei. Meu coração, apressado como sempre e exagerado nas emoções, parecia estar em pleno aquecimento. Dizia-lhe eu: “Aquieta-te, descansa!” Mas ele não me dava ouvidos e parecia acelerar mais. Tentava acalmá-lo com uma respiração controlada, mas...impossível...E assim, o céu, aos poucos, foi se alaranjando, um alaranjado meio sem viço, com nuvens acinzentadas...E fui amanhecendo também.Vesti-me e tomei um reforçado café da manhã. E lá fui eu com o coração, agora em ritmo de marcação de uma escola de samba se preparando para um desfile. O céu continuava nublado, dei um alô aos deuses corredores do Olimpo e eles me responderam com uns chuviscos oportunos. O acordo estava feito.
Cheguei ao local determinado pra largada. O movimento imenso. Uns conversavam, outros se alongavam, outros se aqueciam..não importava, todos os olhares tinham algo em comum, a expectativa pelo grande momento, a largada com um único intuito, correr os 21 km, num percurso considerado um dos mais charmosos do mundo. E eu estava ali pra participar desse evento. E o grande momento se aproximava e...chegou....Era tanta gente, que quando passei pelo pórtico da largada, já se tinha passado quase meia hora da largada oficial. Agora, o chip amarrado no tênis começava a fazer a minha cronometragem..
E lá fui eu, com calma, pois os três primeiros quilômetros nada mais eram do que uma imensa subida. Não dá pra explicar o que acontecia dentro de mim...a paisagem fantástica, o povo à beira da estrada aplaudindo, saudando aquelas pessoas que, de um momento pra outro, se tornaram o alvo das atenções, protagonistas de uma peça real, vivenciada num palco à céu aberto,mais do que iluminado, abençoado pela mãe natureza. O que se passava pela minha cabeça? Não sei, era uma profusão de sentimentos, era como se eu estivesse numa conversa interminável com o meu coração, com as minhas pernas e todos os meus músculos. A cada quilômetro ultrapassado,uma injeção de ânimo.Não me lembrava dos quilômetros que faltavam, mas sim dos que já haviam sido conquistados.
Durante todo o percurso, as palmas, os gritos animavam...eram corredores e platéia interagindo. Algumas vezes, eu ouvia “Isso, Maria!” e pensava...”bem que podiam falar o meu nome também”...e só depois é que me lembrei que o nome que estava junto ao meu número de peito era Maria, meu primeiro nome.
Chegando próximo ao quilômetro 18, sentia-me como que anestesiada, parecia que o coração batia nos pés e os pés corriam no peito. Fui racional e pensei..”Tenho que ter calma, afinal estou aqui pra ser feliz,o coração precisa desacelerar” e fiz uns dois quilômetros caminhando rápido.Ao ver a marca do quilômetro 20, acelerei novamente e uma emoção quase incontrolável tomou conta de mim. A garganta deu um nó e soluços e lágrimas vieram à tona começando uma briga com a respiração. Era a hora de administrar o psicológico...ou chorava e parava...ou engolia o choro e continuava a correr. Optei pela segunda e ...lá estava o quilômetro 21. Pus mais velocidade e..CONSEGUI. Ultrapassei o pórtico da chegada e, então, não deu pra segurar a emoção, liberei os sentimentos e uma única palavra ecoava por todos os meus poros...”consegui”. Encostei-me na grade e chorei.Uma moça perguntou se eu estava passando mal. Respondi: “Estou passando muito bem, sou vitoriosa”.
Devolvi o chip e recebi a medalha. Olhei-a, encostei-a ao peito e, silenciosamente, fiz uma oração. Agradeci a Deus e ofereci a medalha a todos os amigos que espalhados em tantos lugares, estiveram torcendo por mim, correndo comigo,me incentivando.
Cheguei bem, as pernas bambas e o coração os poucos foi se aquietando com a sensação de trabalho bem cumprido. Olhei para o céu e dei uma piscada de olhos para os deuses corredores. Eles foram impecáveis, convenceram o sol a descansar. A orla encheu-se de brilho. Mais de 17000 sóis, cada um com sua luz, seu colorido, alimentavam a manhã de alegria e da certeza de que vale a pena lutar e correr em busca de um sonho, seja ele na pista ou na vida.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

...DIÁRIO DE CORRIDAS...

Oiiiii...bom dia..quase boa tarde....
Ainda estou naquela fase de adaptação na nova casa...Não me sinto completamente à vontade ainda, parece que falta algo..Não sei,talvez um quadro ali,um vaso de flores aqui,um tapetinho naquela entrada ficaria bem..sei lá...Aos poucos vou me encontrando e encontrando vocês por aqui..Mas não esqueçam,venham sempre me visitar..Abanquem-se e vamos papear..Nada melhor do que um bom "bla bla bla" pra desanuviar a mente e "quebrar" a timidez.
Não sei se todos (todos? tenho a impressão que estou falando para uma multidão..ssrsrsr...juro que não sou megalomaníaca)sabem que sou fã de corridas. Pois é,sou. As corridas me fascinam,já tentei descobrir o porquê desse meu gosto..Não consegui...Não sei pra onde corro, de quem corro, para que corro. Só sei que corro e gosto.
Vou, então, contar a vocês um pouquinho dessa minha experiência nas pistas (tomara que alguns se entusiasmem e me sigam....)
Tenho que começar de alguma forma.E começo pela primeira corrida, depois de uns 3 anos de abstinência "corridística",uma MEIA-MARATONA....UAUUUUU!!!....Depois outra...outra..e mais outras...
Vamos,portanto,ao DIÁRIO DE CORRIDAS...

A MEIA-MARATONA INTRNACIONAL DO RIO DE JANEIRO
Tudo começou em julho de 2009......

Há dois dias da corrida minha mente fervilha em pensamentos positivos e ...muita ansiedade. Agora sim, é chegada a hora de treinar a mente, já que o treino físico, propriamente dito, está encerrado.
Penso no “vapt-vupt” em que fiz a inscrição (Pensar pra quê? Quanto mais se pensa, menos se faz...agi rápido e rasteiro...Deixei pra pensar depois, penso agora)...
Penso na disciplina desse último mês......treinamento na esteira, na rua, exercícios de musculação, cuidados com a alimentação.....
Penso na grande quantidade de pessoas "diferentes" que se inscreveram (amputados de membros superiores, inferiores, deficientes mentais, outras deficiências físicas, cadeirantes.....E nós, quantas vezes, por preguiça ou por qualquer problema, ficamos dentro de casa reclamando da vida ou nos sentindo incapazes de algo....Eles são verdadeiras lições de vida..)...
Penso no carinho dos amigos, em todas as mensagens de otimismo, de confiança, de força , de garra......Quando eu sentir minhas pernas fraquejarem, lembrarei de cada amigo..e nesses momentos, cada um estará ao meu lado me incentivando e gritando...CORRA, LU, CORRA (frase tão conhecida, do filme, "Corra, Lola, corra" e que amigos me presentearam com tanto carinho)....
Tantos pensamentos felizes me vêm à mente agora...
Sei que fui atrevida, já sem correr há mais de dois anos e meter-me nessa “loucura" com a cara e a coragem, mais coragem do que tudo (quem me dera ter essa determinação em tudo...quem sabe não é um início?). É o que se pode chamar de loucura plena de lucidez...E que sensação boa essa!!!
Não me incomodo com o tempo que levarei no percurso (será verdade?...)...estarei em comunhão comigo mesma e com a paisagem. Serão momentos em que o mundo e suas misérias não importarão, em que os medos e incertezas estarão adormecidos, em que as imperfeições da vida serão esquecidas.....Apenas os meus passos estarão ecoando no meu coração.....Ou será ao contrário, o meu coração batendo no compasso das minhas passadas?...Mas há uma certeza, a chegada lá na frente, estará à minha espera. E pensar que tudo isso teve um início...O PRIMEIRO PASSO... um passo pequeno, tímido,mas decisivo nesse processo de querer, seguir e conseguir...
Não penso em fracassos...Cada participante já é um vencedor....Somos todos vencedores e dividiremos o mesmo pódio. Não nos contentamos em sermos apenas observadores, quisemos ir além....faremos da pista o nosso palco e cada um de nós será, ao seu modo, o artista principal. Será um belo dia, um dia de festa, um dia em que todos, participantes e torcida, estarão juntos num só grito cheio de energia positiva....A MEIA MARATONA É NOSSA!!!!!! E o mar e a linha do horizonte estarão também nos acompanhando a cada quilômetro, nos aplaudindo no bater das águas na areia e nos refrescando com sopros de brisa...Não podemos esquecer dos deuses corredores que, lá do Olimpo, com orgulho, estarão ordenando ao Sol que se contenha, pois, afinal, o brilho da manhã de domingo é nosso.......só nosso......


Essas foram as preliminares da meia-maratona. A corrida em si, conto depois...Aguardem,é só o começo....Enquanto isso,vou ao treino, sábado tem a Fila Night Run....OBAAAAAAAA....
Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

sexta-feira, 2 de abril de 2010


Boa tarde, amigos...
Estamos na semana santa, mais precisamente na sexta-feira santa....época de reflexões e de leituras mais apuradas do que vai dentro da gente....Não preciso fazer essas leituras internas, pois o que vai dentro de mim, ontem e hoje e, com certeza, ainda por alguns dias, estará visível nos meus olhos e no meu semblante...Meu amigo partiu, um amigo de quatro patas, peludo, pesadão, de voz potente, dentes afiados, mas doce e gentil, um cavalheiro...O Piloto se foi, meu amigo de longa data....Meu guardião...Meu cão pastor...Meu confidente...
Não, ele não se foi....Piloto encantou-se..Seus últimos momentos foram cercados de carinho e em afagos e pensamentos positivos, ele se despediu...Não chorei e não vou chorar..Piloto merece mais que lágrimas, merece todos os agradecimentos e a nossa eterna saudade...e agora deve estar chegando ao céu...Vai, Piloto, chega aí e arrasa!!...Vc será o braço direito, ou melhor, a pata direita de São Francisco que deve, muitas vezes, ter dificuldades em pôr sossego nesse céu repleto de tantos au aus, miaus, mugidos e outras falas..................Vai, meu cão amigo...e diz para a Monaliza,Joaquim,Cupido,Otávio,Skid,Tico,Magno,Apolo que sempre nos lembramos deles....Nunca perca a sua classe, imponência e cavalheirismo..Você era um exemplo até pra muitos seres humanos....e mesmo no céu, penso serem essas qualidades indispensáveis.....
A tua lembrança permanecerá viva entre nós. Os teus latidos fortes ecoarão nos nossos ouvidos. A tua gentileza estará sempre presente. Quem te conheceu, nunca te esquecerá. E esse teu olhar de "menino" pidão estará pra sempre gravado nas nossas retinas...Obrigada pelos mais de 15 anos de feliz convívio. Obrigada por ter me ouvido tantas vezes e me ter acarinhado com lambidas molhadas e gosmentas nas horas felizes e, especialmente nas horas tristes..Vc tudo pressentia...
Pra vc, Piloto, que tantas vezes, em meio a turbulências, soube pilotar minhas emoções não contidas... com lambidas, latidas e pulos...E, quase me nocalteando (como vc era grande e pesado!), vc desanuviava meu coração...E tudo parecia mais leve....Outra coisa, Piloto, procure aí no céu um local pra você se esconder quando houver trovoadas e relâmpagos... Não tenha medo de demonstrar seus medos.
Eu disse que não ia chorar, mas...... Hoje, de manhã,um dia após o seu encantamento, fiz o que sempre faço. Abri a porta pra dar comida aos outros amiguinhos de pelo...Sem perceber, o primeiro nome que saiu da minha boca foi...PILOTO!!!!.....Aí, amigo, não deu pra segurar...e chorei.....Não sei se chorei a tua perda ou se as muitas perdas que eu tive...e em tantas delas,você estava ao meu lado....com certeza, chorei e choro tudo isso junto.....
Sabe, Piloto, você é um amigo tão legal que, com certeza, escolheu, a época certa pra se encantar...uma época em que, querendo ou não, o nosso coração está fragilizado pelo significado da semana santa para nós que somos cristãos...E você partiu sereno, em paz, mesmo com o corpo já cansado e muito doente...Até nessa hora, você foi amigo....e sempre será...o meu grande e doce amigo Piloto.


Bjsssssss no seu focinho, agora invisível...mas pra sempre nítido na minha alma.Fica em paz e descansa!!!!!