segunda-feira, 31 de maio de 2010

COM VOCÊS, PEDRO ABRUNHOSA , O MEU POETA....


Já faz um tempinho.....2007....Eu, muito convencida e "metida", resolvi assim como quem não quer nada, sem querer, mas já querendo...num dia de chuva, de frio, com uma xícara de chocolatinho quentinho, fumegante e com adoçante, é claro....ouvir (como faço sempre...é um ritual quase que diário..)o meu poeta e fui "inscrivinhando" umas bobagenzinhas usando os títulos do álbum LUZ (trabalho dele de 2007)...FUI...ia, voltava.... rasgava a folha (pra mim é imposível escrever qualquer coisa direto no PC, preciso sentir algo nas minha mãos, a caneta, o papel).... dava uma bebericada no chocolate...olhava o tempo pela janela.....coçava a cabeça com a caneta como que a pedir socorro para que as ideias viessem...suspirava...escrevia mais um pouco...lembrei e tirei o telefone do gancho, pois nessa hora a "inspiração"não gostaria de ser interrompida...e lá ia eu acompanhada pela caneta deslizando por um caminho prazeroso em linhas retinhas, todas arrrumadas numa folha de caderno.....
Até que....reparei e...prontinho...lá estava registrado o meu passeio com o meu poeta.....Ainda bem que vivemos tempos modernos, em que é mais do que comum, uma mulher pegar o homem pela mão e levá-lo por algum caminho...Assim fiz eu, peguei o meu poeta pelas mãos da sua poesia e poetamos juntos....
Que ele, em algum sonho, sonhe que lá (esse "lá" é aqui) bem longe existe alguém capaz de se encantar com tudo de bonito que ele escreve e canta...e de sonhar...e muito...dormindo ou acordada....
E ficou assim...os títulos das músicas estão em maiúsculo.....tenho que fazer o mesmo para o mias novo album dele, que foi lançado agora, em abril...LONGE.
(Chegem aqui pertinho e se abaixem todos....um "tricozinho" só nosso (não sei não, mas ele, intuitivamente, deve saber da minha existência...Os dois últimos álbuns têm nomes que começam com a minha letra "L"...LUZ...LONGE..L de Lu.....Mais um dos meus devaneios......Só falo e penso "bobagens"....kkkkkk
Chega de conversa e.....

Sento-me na poltrona. Estou só
Cerro os olhos, alheia a tudo....alheia ao tempo
NADA SEI DO AMANHÃ
Nada sei Do DIA DEPOIS DE HOJE
As minhas dores ardem-me na alma
A DOR DO DINHEIRO
Essa não me importa, ignoro-a
Meu pensamento vagueia por sombras e esquinas
Procuro o meu destino. Luto contra vultos
TENHO UMA ARMA
Onde a deixei? Não sei....Pra quê?
Preciso defender-me de mim....de ti....
Porque A CADA NÃO QUE DIZES
O DILEMA do sentir, do querer me corrói
Preciso proteger-me, disfarçar-me
Talvez encontrar-me
Distraio-me em baladas
BALADA DE GISBERTA, de Maria, de Alice....
Tanto faz....São todas iguais
Os vultos continuam a meu lado, me perseguem, me assustam
Não consigo deles me libertar
QUEM ME LEVA OS MEUS FANTASMAS
Grito por ti....ILUMINA-ME
Levanto-me, acendo a LUZ. Continuo só
Quero-te junto a mim
É preciso construir PONTES ENTRE NÓS
Espero-te.....
Espero-te como um LOBO AO LUAR
Espera pela lua....para se encantar.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O SONO E O SONHO


Perdi o sono...que também tinha perdido o sonho
Fiquei sem sono e sem sonho
Tentei chamar o sono, mas ele não me ouviu...
Estava ocupado procurando o sonho em algum canto
Peguei um livro já folheado e com algumas páginas lidas
Já não lembrava o rumo da história
Voltei ao início.....

Histórias de livros são boas por isso: podemos recomeçá-las quando bem queremos
Caso não nos agradem, as encerramos
O sono não encontrando o sonho e percebendo o meu interesse pela história, começou a querer se chegar.....
...e foi chegando...chegando...
...e aos poucos foi fechando meus olhos....
Sono é diferente da gente
.....precisa de olhos fechados para ver o sonho
Pegou-me desprevenida e no melhor da história, agarrou-se a mim, afrouxou as minhas mãos e nos fez mergulhar, a mim e a ele, no sonho de quem, numa noite, acordado e sem sono, inventou um sonho que depois foi parar num livro


E eu e o sono...sonhamos.......o mesmo sonho
Que o sol ao nascer, me chame desse sonho ainda sem final e me presenteie com um sonho que não precise de sono para ser sonhado......

quinta-feira, 27 de maio de 2010

TELHADOS II


Há pouco tempo escrevi sobre o meu fascínio aos telhados. Relendo o texto, enrubesci...tanta pieguice e idéias açucaradas demais para o meu paladar de hoje. É certo que não estou dada a bons humores. Estou meio azeda. Êpa, azeda não...azeda dá idéia de algo deteriorado, cheio de bolor, prestes a ir para o lixo. Digo melhor...estou meio ácida. Mas reconheço que o tal texto não poderia ser diferente. Se sou fascinada por telhados, teria que usar e abusar do mel das palavras e das idéias.
Agora que mexo e remexo nos cantos mais obscuros da minha mente, devo confessar que não estou para muitos sorrisos. Desculpem-me, mas é assim que me sinto e ponto final.
Subindo mais uma vez nos telhados (os gatos fugiram com a minha chegada. Devo ter chegado rosnando e mostrando os dentes e as unhas...), digo que eles, os telhados, possuem, como nós, um outro lado. Vejamos, telhado não é só aconchego, proteção...telhado também significa esconder, encobrir... Quando olhamos externamente, tudo está nos seus devidos lugares...belo telhado...uma realidade aconchegada, telhas alinhadas cumprindo a função para a qual foram criadas... E se, de repente houvesse um destelhamento, se as telhas fossem, uma a uma, arrancadas por uma ventania? Estaríamos nós, frente à uma realidade nua e crua, sem pele, aquela que o tal telhado ocultava, uma realidade, geralmente, sem poesia, descolorida, sem maquiagem, aquela que, a todo custo, tentamos esconder dos outros e de nós mesmos.
Ah, e os telhados de vidro? Quem não os tem? É fácil atirar pedras neles, quando não são nossos. Só temos a real noção do que eles representam quando são os nossos telhados de vidro que são atingidos. Aí, o bicho pega!!
Costumamos achar o telhado do vizinho, ou mais bonito que o nosso ou então, apenas vemos nele as telhas quebradas. Ah, os nossos olhares maliciosos e plenos de preconceitos.....
Olhemos primeiro o nosso telhado. Talvez ele tenha mais telhas de vidro ou quebradas do que pensamos ou, quem sabe, tenha telhas quase que transparentes.... Cada qual deveria cuidar do seu próprio telhado....
Podem estar achando que algum telhado desabou sobre mim...Nada disso...O problema é que....ai, meu Deus, os pombos resolveram procriar sabem aonde? Bem em cima do meu telhado! E haja água, vassoura e disposição para limpar tanta...porcaria.... Um telhado cheio de pombos deveria ter encanto. Disse bem...deveria...! Mas não para mim que estou justamente embaixo dele e posso, a qualquer momento, ser presenteada por algum “mimo de grego” na cabeça ou no ombro...Eca......
Telhados com gatos fazendo amor, mesmo com toda a gritaria...que amor barulhento!.... têm mais encanto do que telhados com pombos.
Pronto, já sabem agora o porquê do meu mau humor...pombos no telhado. Será? Ou essa conversa de pombos em telhado não seria apenas mais um “telhado” sob o qual quero e preciso me proteger? Pensem o que quiserem....Não me incomodo. Tenho é que aproveitar cada segundo dessa “acidez da alma” que hoje me acompanha, pois amanhã ou qualquer outro dia, darei mais valor à doçura de outros momentos. Aí, quem sabe, possa me encantar com o arrulhar dos pombos no meu telhado. Mas, por enquanto, não...E assunto encerrado,,,,,

terça-feira, 25 de maio de 2010

......TELHADOS I.....


Telhados, muitos telhados...fazem-me lembrar peças de encaixe de um jogo formando uma singular imagem carregada de....subjetividade.
Telhados exercem sobre mim um certo fascínio. Por quê? Não tenho a menor idéia. Simplesmente gosto de admirá-los. Telhados estão acima do bem e do mal, são os olhos e os ouvidos da vida. Ouvem e veem tudo sem opinar, sem tomar partido, são simples assistentes da realidade. E se fizéssemos como os telhados, se vez por outra, observássemos os acontecimentos assim, bem do alto? Será que não descobriríamos que as dificuldades e obstáculos não são tão difíceis de serem ultrapassados?
Ah, os telhados! Vejo muita poesia neles...É o lugar preferido dos gatos quando querem amar. O amor dos gatos das grandes metrópolis não tem o mesmo encanto, não há telhados, só arranha-céus, cimento, aço e vidros...Pobres bichanos...
É nos telhados que ficam as chaminés (deveria haver uma lei na arquitetura que obrigasse as casas a terem uma chaminé, mesmo que de enfeite fosse. As minhas casas desenhadas em menina tinham todas uma chaminé de onde saia uma fumacinha com formas e cores variadas. Será que a origem da felicidade não estaria numa singela chaminé? É simbologia, eu sei...chaminé é aconchego, calor humano, é pão quentinho, é bolo macio, é chá fumegante, é proximidade, é toque de mãos, de pés...). Chaminés, no Natal, são a “porta” de entrada do Papai Noel. É infantilidade? Não, é magia, é sonho, é encantamento...
E quando é inverno nos países de alta latitude? É a época em que os telhados, todos inclinados, atingem o auge da imponência e beleza... Cobrem-se totalmente como se estivessem a se proteger do rigor do frio...com um grosso cobertor de neve.
Telhados...lindos mesmo são os tradicionais...telhas vermelhas, onduladas, trabalhadas pelas mãos ágeis do oleiro e queimadas no calor do fogo.
Quanta coisa poderia ser dita dos telhados...proteção, aconchego, privacidade... Será que há muita gente como eu, que vê encantamento neles? Não tenho medo de altura, quem sabe qualquer dia, eu tome a iniciativa de subir num belo telhado? Sentada, verei o mundo sob uma nova perspectiva. Olhar o mundo da janela de um prédio não tem magia, é como se estivesse engaiolada, impedida de usufruir de tudo o que meus olhos veem. Já de um telhado, me sentirei livre, dona de mim e da paisagem ao meu redor. E com um pouquinho de sorte, quem sabe, não serei convidada a conhecer a casa de alguma andorinha construída no beiral do telhado? Andorinhas são espertas, elas sabem que de um telhado podem alçar voo para onde quiserem...sem medo e com muita graciosidade.
Quando estiverem caminhando por aí e ouvirem um...PSIUUU!....olhem para o alto, poderei ser eu de algum telhado escondida atrás de uma chaminé acenando pra vocês....Quem sabe??......

segunda-feira, 24 de maio de 2010

MARIA


Maria, quanta alegria
Teu dia-a-dia irradia!!

Maria que não se cansa
De tanto embalar criança!
Maria que lava roupa
Que encostada no tanque
Esfrega, torce e diz sorrindo:
-“Ainda é pouca!”
Maria que cozinha cantando
Maria que varre chão dançando
Maria que vê a noite chegar
Com o coração palpitando
Maria que espera o amado....
Maria que se banha
Que fica cheirosa
Que arruma os cabelos
...e os enfeita com uma rosa!

Cuidado, Maria!
Esquece um pouco essa “vida de Maria”
O mundo apronta...Olha mais pra ti...
Ah, Maria, que a tua alegria...
...nunca se transforme, assim de repente.......
..........numa total agonia!.....

domingo, 23 de maio de 2010

...MARIA, MARIA....



“LEMBRANÇAS LEMBRADAS”, NÃO COM TRISTEZA, MAS COM A CERTEZA QUE ...VIVER VALE A PENA....Lembrei, não sei porque.....simplesmente lembrei...Mas será que dá pra esquecer? Claro que não...

Tenho manias...Quem não as tem??? Uma delas, não sei se seria uma mania, penso que seja uma forma defensiva de tentar encontrar sempre algo de bom no dia a dia. Deve ser por medo, apreensão, sei lá.... pensando friamente, creio ser uma válvula de escape, um mecanismo de defesa para me sentir confortável na vida, protegida. Procuro “sinais’ nos acontecimentos com os quais me defronto ou que me são apresentados,muitas vezes, assim de supetão, pela vida.
Pois bem, reflexões existenciais à parte...ninguém me chama de Maria (meu primeiro nome) e, geralmente, esqueço-me que sou Maria. Tanto que, às vezes, ao atender o telefone, a voz do outro lado ao dizer que “gostaria de falar com a Maria”, eu logo respondo...”sinto muito,mas não há nenhuma Maria aqui”. Mas, em seguida, ...”desculpe-me, Maria de quê?”...A tal pessoa deve achar que sou “aluada” ou que meus neurônios encontram-se desconectados....
No hospital (não me incomoda lembrar desse episódio, foi quando eu tive a certeza que era amada por tanta gente...), ao contrário, todos me chamavam de Maria (exceção feita a uma enfermeira para quem eu era “Gasparzinha”. Era Gasparzinha pra lá, Gasparzinha pra cá, por eu estar tão branca e descorada...Se já o sou, imaginem a palidez que deveria estar apresentando! Ainda bem que lá não havia espelhos, pois se eu me visse, morreria de desgosto....Eu era o próprio fantasminha Gasparzinho, só que em carne e osso...).
Na última noite em que lá estive, lutei contra o sono para assistir um especial na TV com o Milton Nascimento (aí eu já não estava mais no CTI). Gosto muito do Milton, de suas músicas e do seu jeito suave e melodioso de ser e de interpretar. Para minha alegria, ele iniciou o especial cantando “Maria, Maria”, uma de suas mais antigas e lindas canções e a minha preferida. Exultei, claro que a música só podia ser para mim (que convencimento o meu!). Era um sinal que tudo estava bem, que eu tinha conseguido me equilibrar na corda bamba da vida e vencido o desafio. A letra da música penetrava na minha alma, sentia-me a própria Maria...e chorei...e agradeci a Deus....Findo o especial, adormeci, ainda com a música soando docemente na minha cabeça e no meu coração, como uma deliciosa cantiga de ninar.
Com certeza, a enfermeira desligou a TV enquanto eu dormia um sono tranquilo, próprio daqueles que....estão em paz...mas bem vivos.... E eu,havia entendido o sinal....
Manias de Lucinda, ou melhor, manias de..... Maria.....

http://www.youtube.com/watch?v=ybQNTisHkys

sábado, 22 de maio de 2010

....SEM PALAVRAS....


Palavras, sempre as palavras!!!!!
Há dias que não quero saber delas...sabem a alegrias perdidas
Hoje elas estão cheias de arestas e exigem ser buriladas
Teimam em vir ao mundo pelos meus dedos ou pela minha voz em parto rápido e sem [dor
Ah! como seria bom continuar a gestá-las, sem ouvi-las, sem vê-las e nem tateá-las Simplesmente, mantê-las dentro de mim, sentindo-as apenas
Tento aquietá-las, dar-lhes desprezo
Rebeldes e sem escrúpulos, algumas criam força e vão dando nós na garganta para [neles se fincarem e em escalada, chegarem à minha boca
Outras se espalham pela corrente sanguínea e tentam jorrar pelos meus dedos

Tanto fazem que obrigam os olhos a salgarem minha boca
e escrevem no coração notas de melodias guardadas
Deixam-me fora de eixo e me fazem perder o ritmo da lucidez
E vou fraquejando...fraquejando....
Ai, meu Deus, essa música no peito que me amolece
Essa necessidade de apertar os olhos
Esse sabor salgado na boca
Vou desfalecendo, me entregando quase sem sentir
Sinto apenas a caneta entre os dedos que, aos poucos, vai dando-lhes vida
Vaidosas, venceram-me mais uma vez!
Manipulam-me porque conhecem meus pontos fracos
Como num ato de amor, pelo toque das minhas mãos, as palavras dançam em leitos [horizontais de uma folha branca
Em pouco tempo, estão ali, à minha frente
Tento ouvi-las, mas já relaxadas, se calam
Tento lê-las, mas mesmo atrevidas, são tímidas e se escondem sob manchas molhadas [de gotas caídas dos beirais da alma

Tanto sacrifício para nada
Dei-lhes vida e impedem-me de conhecê-las
Também não faço por menos
Amasso a folha de papel
As mesmas mãos que as trouxeram à vida, mandam-nas agora para os becos escuros do [tempo
E lá ficarão perdidas para sempre
Apenas usaram-me para alçar vôo, para se libertarem de mim......
E partiram, abandonando-me, deixando-me só.....
....sem palavras

sexta-feira, 21 de maio de 2010

AMOR E PALAVRAS


O amor e as palavras têm personalidade forte...
Uma vez perdidas...se vão para sempre e sem olhar pra trás
Quando sinto meu coração explodir de sentimentos...
...meus pés me empurram para fora de mim
E são as palavras que vêm em meu socorro
Elas surgem, como mágica, encadeadas, fáceis como se já estivessem ali, prontas para se apresentarem
Elas me falam, apaziguando e explicando os desacertos do meu peito
Procuro na bolsa um papel e uma caneta. Em vão....
Nada tenho para dar-lhes corpo, forma e cor
Sentindo-se rejeitadas e com o orgulho ferido, viram-me as costas
E nunca mais consigo encontrá-las
Com o amor também é assim...
Ele surge como um susto que arrepia a pele e faz tremer as pernas
E sem saber como agir, desnorteio-me...perco o chão...
O olhar se desvia de um olhar de fogo
O sorriso fica sério para um sorriso aberto
A voz se faz surda ao que diz a outra voz, quente e macia
E assim....o amor passa num leve roçar de braços,num tremelicar de pernas, num descompasso de peito e ....se perde para sempre!
Palavras....Amor....
Perdi um poema, talvez a minha obra prima!!
Perdi um amor, talvez o grande amor!!
Um apenas? Como saber? Talvez alguns!
Quem sabe da próxima vez eu esteja preparada?
Com caneta e papel na bolsa
E os olhos do coração bem espertos e sem timidez!!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

MULTIDÃO


Gosto da multidão. Gosto de me misturar àquela gente toda, gente sem histórias visíveis, sem sentimentos na cara, sem emoção no olhar.....caras sem identidade. Gosto de ver os andares, os vestires...É difícil ver os olhares, olhares ausentes ou metidos no chão. Não sei que graça esses olhares encontram no chão. O chão não me interessa. Interessam-me as caras e é pra elas que vou tecendo histórias, inventando nomes, amores, encontros, desculpando ausências .....Todas essas caras estão na minha mão. Sinto-me um deus, faço e desfaço, crio vidas sem me importar com vontades.
Sento-me na calçada para observar melhor. Inventar vidas não é coisa simples, mas faço..... Paralelamente à minha criação está a trilha sonora de qualquer multidão urbana que se preze, as vozes dos ônibus e carros...vozes barulhentas em todos os tons possíveis e imagináveis, vozes que não se calam nem por um segundo. Talvez sejam os gritos das mulheres que esbravejam as rudezas da vida, gritos de homens estressados e impacientes, gritos de crianças que querem chegar logo em casa pra brincar, gritos de mocinhas incautas que querem adiantar o relógio para o encontro com o príncipe encantado, gritos dos velhos que,com medo da morte, clamam por mais tempo de vida. E eu fazendo a leitura desse vozerio e manipulando minhas marionetes-gente.
Em meio à minha criação, uma voz diferente de todas se fez ouvir...um tilintar ao meu lado. Alguém passou e vendo-me ali sentada, atirou-me ao colo, algumas moedas. Quem grita e esbraveja agora sou eu e com a minha própria voz...”Como? Dar vida e alma a tantas caras não tem preço não,moço!”. Ofendi-me, olhei o insensível e lá ia ele a passos firmes, “enternado” com uma maleta 007 (será que há alguma mais moderna? mochila não tem glamour....rsrs) com ares de quem quer e pode comprar meio mundo. “A mim não, violão!” Levanto-me, jogo as moedas no bueiro (reconheço que não foi uma atitude ecologicamente correta.....perdão!) e vou embora. Minha criação tinha sido interrompida, deixei de ser um deus. Pobres caras que continuarão sem histórias nessa história...
Resolvo caminhar.....Agora sou mais uma cara sem alma nessa multidão. Chego a um jardim. Sento-me num banco. Ali não é necessário criar. Tudo tem vida. Tudo é vida....as flores, o gramado, as árvores.... E a vida mais linda... almas com identidade...as crianças em suas brincadeiras e vozerio alegre, as mulheres nas conversas de comadres,os casaizinhos que, sussurrando, devem estar fazendo juras de amor eterno, os pássaros que, ouvindo tudo, espalham as novidades uns aos outros com seus gorjeios. E eu ali, sentada....uma cara inexpressiva. Carrego em mim toda a multidão que por causa de algumas moedas ficou sem vida. Eu sou a própria multidão...sem nome, sem história, sem sentimento...destoando de tudo que ali existe.....

quarta-feira, 19 de maio de 2010

...DESNUDAR-ME? DÓI, COMO DÓI.....


Dispo-me frente ao espelho...
Carne, pele,músculos, pelos, cabelos, dentes...
Vejo uma mulher comum
Saída de uma fôrma há milênios
E nunca modificada
Tão simples despir-me......

Quero desnudar-me....
Dói desnudar-me...Dói muito...
É dor que dilacera, que sangra, que desperta feridas...
Mas tento...
Pouco a pouco, penetro no porão desse meu “ser” vestido de mistérios
Enrosco-me em teias enredadas há anos
Sinto o cheiro de mofo e cubro-me da poeira do tempo
A garganta pigarreia e os olhos ardem
Tanta coisa de mim, ali, abandonada
Tempestades prestes a desabar, todas encaixotadas
Vontades e sonhos contidos....engarrafados
Desejos e amores calados.... engavetados
Emoções acorrentadas
Palavras inertes, vazias, habitando cadernos embolorados

Despir-me é um ato tão simples
Desnudar-me é tão dolorido
Não sei se um dia serei capaz...
Deixo tudo lá, intocado
Saio do “meu” porão devagarinho
Parece-me que cometo um sacrilégio...
Profanar seres há muito sepultados...
Escondo a chave sob o tapete do esquecimento
Preciso livrar-me dela...
Olho para mim, para minhas mãos...
Tenho apenas vestidos rendados, saias floridas, meias de seda....
Visto-me...Dispo-me...Sou uma mulher comum....
Desnudar-me?
Não tenho coragem para tal . Agora não...Ou não seria essa a hora?
Tenho medo...Quem sabe amanhã?...Ou depois?...Um dia, talvez.....

Serei uma nova mulher, invulgar, completamente diferente da que fui até agora....
Calo meus pensamentos .....Prefiro não pensar....

terça-feira, 18 de maio de 2010

...STREAP TEASE EMOCIONAL.....



Desejo ser tua
Preciso ficar nua
Jogar fora os trapos do coração
Arrancar da alma os farrapos
Sentir meus pés livres
Tirar os velhos sapatos

Vou me despir de mim
Pouco a pouco, calmamente
Escolherás a música, bem suave
E só tu estarás à minha frente
Devagar, as velhas lembranças
Com as próprias mãos, tirarei da mente
As dores...essas, arrancarei com os dentes

Permanecerás parado,extasiado
Com um leve sorriso, envergonhado
O meu perfume tornará o ar mais inebriante
Os sons musicais se confundirão
Com a tua respiração ofegante

Cortinas fehadas, ambiente sensual
Só nós dois, à meia luz
Nesse jogo de amor puramente emocional
.....Vou me tornar uma folha em branco....
Nela poderás escrever
Uma história, um poema...
...ou um simples acalanto

segunda-feira, 17 de maio de 2010

...CORAÇÃO? QUE CORAÇÃO?....


Mar sem ondas
Vento parado
Natureza sem vida
Coração abandonado

Sol ofuscado
Céu apagado
Nuvens cinzentas
Coração hibernado

Terra sem cheiro
Chuva sem frescor
Orvalho sem brilho
Coração sem calor

Abraço sem graça
Beijo vazio
Corpo gelado
Coração sombrio

Olhar distante
Sorriso descrente
Mãos inertes
Coração ausente

....OLHAR.....


OLHO PARA O NADA
ABRAÇO O VAZIO
AFAGO A AUSÊNCIA
DESPREZO A PRESENÇA
DESFAÇO O QUE ESTÁ FEITO
REFAÇO O QUE NÃO TEM MAIS JEITO

ESPERO PELO QUE NÃO VEM
DESPACHO O QUE ME ESPEROU
BEIJO A CHAMA QUE ME FERE E QUEIMA
VIRO AS COSTAS PARA QUEM, EM CHAMAS,
[ME BEIJOU

SORRIO PARA A TEIMOSA DOR
FECHO A CARA PARA O SORRISO DO AMOR

sexta-feira, 14 de maio de 2010

....SONHOS TRANSFORMADOS....


Sonhei que tecia sonhos numa enorme tela
Usava fios de seda de todas as cores, as mais alegres
Tecia bonecas, sorvetes, lápis de cor, livros de histórias
Meus dedos, cada vez mais habilidosos, pareciam dançar nos novos traçados
Deles surgiam músicas, cachos de cabelos, bocas de batom suave e corações
A um dos corações dei carinha, pernas e braços
Ele criou vida e começou a tecer suas vontades
Vontades que eu pensava serem minhas
Tecia casinhas, chaminés soprando fumaça cor de rosa
Tecia jardins em flor, tecia a luz do sol, o brilho da lua cheia e o cantar do mar
Tecia risos de crianças e muitos sorrisos...meus
Tecia cheiros, cheiro de comida boa, de casa limpa e cheiro de mulher contente
..... Num piscar de olhos, a tela escureceu...ficou negra
Assustei-me e o que era sonho transformava-se em pesadelo
Onde estava o que eu, com carinho e cuidado, havia tecido?
Onde estavam os sonhos de traçados felizes?
Não havia mais sonhos
Nem fios de seda
Nem cores
Havia apenas uma tela negra
Negra tela tecida de arame farpado
Tentei fechar meus olhos naquela escuridão...não consegui...
Uma gota vermelha que escorria num dos cantos da tela gritava meu nome
Tive medo, queria acordar daquele pesadelo
Levei a mão ao peito, apertei-o e, trêmula, dei-me um beliscão
Senti uma imensa dor
Acordei?...Não foi necessário!.....
Olhei para o meu peito e vi que escorria pela blusa negra uma gota vermelha
...a mesma gota que escorria e gritava na tela que eu havia tecido.....
Era eu que soluçava....

quinta-feira, 13 de maio de 2010

.....A CASA IDEAL.....


O sol passeia pelo céu indiferente a tudo...Lá vou eu pela pequena rua protegendo-me de seus raios na sombra dos muros das casas. Olho para as casas, esses seres de pedra, tijolos e cimento, seres que a natureza vai “envivecendo”, pouco a pouco, em diversos matizes verdes, róseos, amarelos...em formatos diferentes de pétalas e folhas. São seres que possuem muito de humano, provavelmente pelos pulsares de corações absorvidos por suas paredes.
Há casas que se parecem tanto com seus moradores que não consigo vê-las habitadas por outros. Penso na minha casa,tão diferente de mim...grande,espaçosa com amplas janelas e portas, enquanto eu, tão pequena, tão delimitada que nem sei como consigo guardar cá dentro tantos sonhos, desejos, emoções, medos.questionamentos........
E é nessas contemplações, que num verdadeiro insight, lembro-me de quando vi uma casa que me deslumbrou, ideal, não construída no laboratório dos sonhos ,mas construída de concreto, concretamente falando.
Foi numa tarde luminosa, mais colorida que um arco-íris....céu azul, sol alaranjado, montanhas e vegetação em todos os verdes possíveis, rostos rosados e sorrisos brancos que a encontrei.Parecia estar ali,à minha espera. Encantei-me, encantamo-nos mutuamente. Parecia que dizia...”Finalmente, você veio!”. Entrei, senti-me em casa. A entrada era uma abertura sem madeira, vidros ou caixilhos...apenas uma entrada, exatamente da minha altura, nem mais,nem menos. As janelas, se assim podemos chamar, completamente livres, abertas, numa observação constante para a imensidão. As paredes pintadas de um forte alaranjado...senti que eu mesma poderia tê-las pintado, quem sabe em algum sonho perdido do qual não me recordo. E o teto? Ah, o teto!....uma tela livre em constante movimento...Que privilégio...ora estrelado, ora carregado de nuvens claras, andarilhas ou cinzentas e pesadas, ora todo azul, límpido, ora chorando lágrimas suaves,ora verdadeiros rios caudalosos.....um teto móvel com cenários variados. Mas o que me deixou em êxtase foi o chão da casa.....nada de mármores, granitos, tábuas corridas, acarpetamentos ou mera terra batida....nada disso. O chão era um simples correr de águas cristalinas, frescas e melodiosas. Parece que ainda ouço seus cantares suaves e ritmados. Não há palavras que expressem o que é estar numa casa com piso de água corrente. E tapetes? Quem disse que não os havia? Sim, eles estavam lá e muitos....grandes seixos rolados, macios como a pele, a mais bem tratada. Que maciez era roçar neles os meus pés! E como era bom pular de seixo em seixo...brincadeira acompanhada, não só pelo som do correr das águas, mas também pelas batidas compassadas do salto dos meus sapatos. Digo mais uma vez, não era uma casa sonhada, mas uma casa real, tocável.
Nada sei da sua história, dos mistérios das pessoas que lhe deram corpo e do porquê dela estar assim, devassada, aberta ao mundo, interagindo com a natureza. Talvez tenha permanecido dessa forma para não guardar segredos, angústias reprimidas, choros ou risos, sem ranger de dentes ou de portas, sem medos, sem vultos escondidos prontos a fazer o nosso coração disparar de susto. Uma casa em total e verdadeira parceria com o tempo, a natureza e alheia aos homens e às suas comodidades.
Apossei-me dela, ou melhor, apossamo-nos uma da outra. Não pude trazê-la comigo e nem habitá-la, é claro. Mas trouxe muito da sua essência e lá deixei também muito da minha. Pertencemo-nos, algo de mim lá ficou descortinando o mundo pelas janelas, refrescando-se nas águas correntes, brincando nos tapetes de pedra e, principalmente, estando à porta, como uma guerreira que protege o seu reino. Documentos? Não são necessários. A escritura está lavrada e timbrada dentro de mim. A sua liberdade e a curiosidade pelo mundo vieram comigo.
Se alguém me pergunta: “Como pode uma casa tão desprotegida ser considerada ideal?”...respondo: “O ideal está justamente nesse abrir-se ao mundo, nesse desnudar-se completo,nessa liberdade irrestrita capaz de abrigar, não um corpo, mas algo muito mais grandioso..a essência, a essência concreta, livre, única...que nunca morre”.
É como essa casa que eu gostaria de ser...livre, sem medos, aberta ao mundo, a novas experiências..... Quisera eu ter esse “ideal”...Ela sim, é corajosa....ou fizeram-na corajosa? Quanto a mim, apenas eu posso me construir, me reconstruir....E é ela quem vai permitir que eu nunca me esqueça disso.....

quarta-feira, 12 de maio de 2010

...MÃOS E PÉS......


Olho para as minhas mãos
Sinto-as mudas, frias e tristes
Aconchego-as no meu peito feito dois pássaros necessitados da proteção de um ninho
Ali ficam elas...adormecidas numa hibernação fora de época
Aos poucos, vão se aquecendo com o calor de um sol fugido do céu
E ao som de músicas saídas do peito, vão despertando
Cumprimentam-se com bons dias e toques apaixonados de quem acabou de acordar
Sem perder tempo, procuram o que fazer....
Tateiam meus cabelos
Acertam a gola da blusa
Perfumam meu pescoço
Tomam atenção ao passar o batom e o rímel
E puxando o zíper do jeans, riem e tagarelam entre os dedos algo que não consigo compreender
Apressadas, querem sair atrás de novidades
Mas , os pés as limitam
Que, ao contrário das mãos, pausadamente, caminham...
...mais frios, mais tristes e mudos .....
Pés sem sorte, não têm um peito feito ninho para os aquecer
Pés são diferentes
Só gostam do calor de seus iguais
Pés gostam de outros pés
Ou quem sabe....
....de mãos que pertençam a esses outros pés
Mas, por enquanto, continuam frios, mudos, tristes...
...caminhando pausadamente
Pobres mãos....
Dependendo de pés para serem felizes......

terça-feira, 11 de maio de 2010

...EM CENA...ATOS ENCENADOS.....



Um Pouco de fantasia...em prosa e poesia
Fantasia? Não! Realidade plena de magia....

Já brincamos em parque de diversão...Já apostamos corrida
Já tomamos banho de chuva e nos escondemos numa cabaninha
Você me deu sorvete e eu te cantei uma antiga canção

Já fui Lua..... você, Sol
Eu estava onde você ainda não tinha chegado
Você chegava...e eu tinha acabado de sair
Mas quando nos encontrávamos!!....
Todos os olhares se voltavam para nós...
....e o palco era o céu

Já fui bailarina de caixinha de música....você, soldadinho de chumbo
Ficávamos, lado a lado, numa prateleira
Esperando que as crianças nos levassem ao circo...Que prazer que era!!
Eu rodopiava, rodopiava só pra você
E você só tinha olhos para mim

Já fui Flor...você, Colibri
Dávamos vida a qualquer jardim
Aí, um moço bonito me cortou e me deu para uma moça triste
Ela bateu o pé pra tristeza e pegou no ar um sorriso que parecia eterno
Ficou tão vaidosa....
Ela pensou que o colibri que agora não saía da sua janela estava ali por causa dela
Bobinha....Olha lá eu no cantinho da mesa.....

Fomos cores....Eu, Rosa...você, Azul
Fazíamos do arco-íris o nosso escorrega e ríamos, ríamos....
Um dia, nos aventuramos e resolvemos fugir....
Tudo era novo para nós....
Abraçamo-nos tanto, mas tanto, mas tanto...
Que fomos pincelando o mundo de lilás
E os entardeceres e amanheceres ficaram bem mais bonitos

Hoje sou mulher...você, homem
Somos pele, febre, suor
Somos desejo, carinho, amor
Você pega a minha mão
Sussurra no meu ouvido e...
...Cerram-se as cortinas e longe de todos
...começa o ato...só nosso...fora de cena...longe do palco....

segunda-feira, 10 de maio de 2010

...OLHA A CUCA....


Pedro, meu amor...O tempo passa tão rápido... Parece que foi ontem que estava eu, ansiosa, esperando a tua chegada e agora, eis você, um lindo menino que completa dois aninhos, um rapaz que já está até na escola....E olha a coincidência..No dia do seu aniversário, 8 de maio, a festinha na sua escola, a Festa da Família....Você estava tão lindo, mas na hora da apresentação,vc ficou tímido..Mas, sem problemas, as coisas são assim mesmo e eu estava lá pra te dar a mão e te fazer sentir segurança...E CANTEI JUNTO COM VOCÊ... Pega o meu presente de aniversário...um poeminha da Cuca Maluca...Nada de ter medo dela, a minha mão está aqui...qualquer coisa, segura firme.....

OLHA A CUCA MALUCA


Era uma vez...uma Cuca
Completamente maluca
De tão biruta
Fazia da vida dos outros uma verdadeira luta

Empurrou o Velho do Saco
Que está até hoje catando cavaco

Montou no lombo do Dragão
E foi fazer farra na China e no Japão

Deu um espelho pra Bruxa
Dizendo que ela parecia a Xuxa

Chamou o Saci
E pediu que fizesse embaixadinhas com um caqui

No aniversário da Mula sem cabeça
Deu-lhe de presente um florido chapéu de viscondessa

Inscreveu o Boi da Cara Preta
Numa competição de motocross....
....só que com uma velha lambreta

Aconselhou o vaidoso Bicho Papão
A fazer uma dieta...de água e agrião

Matriculou numa escola de dança, o Sr. Vampiro
Pra aprender o samba, a rumba e o tiroliro

Essa Cuca atrevida
Não dava sossego, só arrumava confusão
E a garotada, coitada
Ficava sem histórias e sem sustos no coração


Até que um dia....estava a Cuca distraída
Veio o Monstro Marinho (a pedido dos outros monstrinhos)
Convidou a Cuca para uma festa no mar
Pobre Cuca, festeira que só
Foi logo aprender a nadar
Treinava tanto que até dava dó
Se afogar? Hummm...nem pensar....
Enquanto isso...todos os monstrinhos
Voltaram para as histórias encantadas
E agora não fazem outra coisa, a não ser...
.......assustar, de noite, a criançada....

E assim acabou a história de uma Cuca destrambelhada
Que vive na água dando milhões de braçadas
Assustando os marinheiros em noites enluaradas....








sábado, 8 de maio de 2010

.......DIA DAS MÃES.........9/MAIO/2010





Hoje, nos preparativos para o almoço do Dia das Mães (afinal,ir ao restaurante nesse dia não é presente...é castigo...as filas...) estava pensando no que seria ser mãe para mim. Ora, mãe é mãe...e ponto final...é gerar, é parir, é criar...e, por aí vai. Parece pensamento sem emoção, sem sentimento. Não conseguia pensar nas mensagens lindas, cheias de apelos emotivos que recebemos nessa data. Será que estou ficando insensível? Vieram-me outros pensamentos...pensamentos não...vieram-me histórias, muitas histórias. Lembrei-me das vezes em que, de maleta na mão, fui para a maternidade pra ser mãe pela primeira vez...”Ainda não é a hora, pode voltar pra casa...”.Mãe de primeira viagem.....
Lembrei-me da vez em que, fazendo a limpeza da cozinha, uma das filhas me pedia algo que já não me lembro o que era, mas não podia deixar o que estava fazendo para atendê-la. Já cansada, disse-lhe...”Filhinha, vá lá no quarto da mamãe e vê se a mamãe está lá, vá...”. A inocente sai imediatamente e logo volta e diz...”Não, mamãe, já vi,mas você não está lá não..”.Pobrezinha, e lá foi ela mais algumas vezes...Maldade!!!!
Lembrei-me de uma vez, corrigindo dezenas de provas, toca o telefone e eu digo para uma delas...”Atende, filha, e diz que eu não estou...”. Dito efeito...ela atende e diz...” Oi, a mamãe está dizendo que ela não pode falar porque não está aqui...”. Que belo exemplo...ensinando a mentir (mãe também é gente...tem muitos defeitos)
Lembrei-me das inúmeras vezes que era acordada por uma delas, às 3 ou 4 horas da madrugada...”mamãe, levanta, vem me vestir que eu não quero chegar atrasada...”. Olhava e lá estava ela segurando numa mão o uniforme do maternal e na outra o pente e o laço de fita do cabelo. Sempre responsável desde pequena...
Lembrei-me da vez em que a filha do meio chamou-me sorridente, dizendo...”Vem,mamãe, vem ver como a maninha está linda, parecida com você...”. Chegando ao berço, deparei-me com um bebê de 3 meses com o rosto totalmente pintado de batom vermelho (e estava parecida comigo? Meu Deus, que assombro!...)
Lembrei-me da vez em que a professora, minha colega de escola, chegou para mim e disse...”Olha, acho que temos que mudar a sua filha de turma, ela já sabe ler e escrever, termina logo as tarefas e depois, desculpe-me, mas aí só faz atrapalhar os outros!...” Que vergonha! Bem feito para mim, quem me mandou alfabetizá-la tão cedo? Tivemos que arrumar outra turma para ela. E assim, lá se foi a “sapeca” de 5 anos para uma turma de segunda série. Aí é que a coisa esquentou....
Lembrei-me das inúmeras vezes em que, atarefada nas lidas da casa e de olho no relógio para ir trabalhar, levava a mamadeira para a mais nova no berço...e ia continuar o que estava fazendo. Logo, ouvia um barulho...era a mamadeira já vazia que ela jogava para fora do berço. Ia ao quarto, pegava a mamadeira e dava-lhe um beijinho. Menina esperta!....
Lembrei-me da vez em que,cansada das notas vermelhas na tabuada (filha de professora com notas vermelhas era inadmissível...), decidi ficar com ela memorizando a “perversa” pela madrugada afora para o teste do dia seguinte (e dizia. “eu não sou mais eu, se você não aprender essa tabuada, nem que seja na marra! Chega de notas vermelhas!)...7X1...7X2...7X3........Dito, feito e cumprido...a “maldade” da mãe professora foi válida...ficou craque na bendita tabuada..Com os meus alunos...pedagogia, em casa...”paudagogia”.
Lembrei-me da amiga que, ao me encontrar, diz gargalhando...”Encontrei tua filha ontem, indo para a escola, andando de costas e me disse que, como estava ventando, não queria que o vento desmanchasse o cabelo dela!...”. Vaidosa, tudo bem...mas andar de costas?.....
Lembrei-me de quando dizia para a outra...”Como é, já tomou banho?” E ela respondia...”Estou acabando.” Dava uma incerta, abria a porta do boxe e lá estava ela, no cantinho, completamente seca e a água caindo, caindo a metros de distância...E das vezes em que a mesma ia se deitar de uniforme para no dia seguinte já acordar vestida...era pra dormir mais um pouco, dizia...Pode??....
Lembrei-me da vez em que,depois da prova de geografia, ela veio toda faceira me contando...”Mamãe, caiu o que nós estudamos, para desenhar a rosa dos ventos”. “Que bom, filha, você desenhou direitinho, não esqueceu nenhum ponto cardeal e colateral?...”. “Ué, mamãe, era isso?” Ai, meu Deus, o que vem por aí? Nem precisei perguntar que ela foi logo falando...”Eu desenhei uma linda rosa virada e a cara do vento soprando ela”. Parece piada...mas juro que é verdade. Não sabia se chorava ou se ria....
Tantas coisas me vieram à mente, tantas histórias...o crescimento delas, os lanches aqui em casa com os amigos, os primeiros namoricos...Vi-as crescendo, tornando-se lindas mocinhas, entrando no segundo grau, o estresse dos vestibulares, a entrada na faculdade...estavam se tornando mulheres, 3 lindas mulheres com idéias próprias, interesses individualizados, habilidades particulares, seus maus humores...cada uma, uma personalidade, um estilo,um jeito de ser..mas todas, igualmente adoráveis...À medida que foram crescendo, o trabalho braçal ia diminuindo, mas as preocupações aumentando, aumentando...As saídas noturnas que queriam, o pai que dizia um NÃO categórico e eu, ali, no meio, servindo de ponto de equilíbrio...e haja malabarismos e contorcionismos nas palavras, desculpas e panos quentes.....
Filhos, histórias de vida, histórias de amor, histórias de luta...tenham eles a idade que tiverem serão sempre nossos meninos e meninas (para a minha mãe, até hoje eu sou...”a minha garota”) e nós, mães, sempre com histórias pra contar como se fôssemos as únicas do mundo a terem filhos tão maravilhosos.
Eis uma das últimas...Eu e minha filha, a mais velha, fomos fazer compras. Entramos na loja e ela experimentou algumas peças de roupas. Eu dando palpites, claro...mãe tem sempre que palpitar...em quase tudo. Ela experimenta essa, aquela, olha daqui, olha dali e diz para a vendedora...”Essa calça não vou levar, não gostei.” A vendedora...” Mas, ficou tão bem, ouvi a sua amiga ali dizendo que também gostou.” Ela olha a moça fixamente e muito séria, diz alto e em bom som...”Minha amiga? Ela é a minha mãe!!” Disfarcei, fingi que não tinha ouvido...afinal,mãe pode er tudo...amiga, companheira, confidente, durona, ranzinza, gorda,magra, moderna, antiquada, flexível...mas antes de qualquer coisa...MÃE É MÃE!!!.... e ponto final!!.....

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ENCANTAMENTO


Um dia, perguntaram-me qual era a receita para o meu otimismo.Não soube responder, nunca tinha parado pra pensar nisso e nem me dava conta desse tal otimismo. Fui ao dicionário pra verificar o significado da palavra (claro que sei seu significado, mas queria ler o conceito formal através da voz de um acadêmico). Lá estava escrito: “Doutrina filosófica segundo a qual tudo corre no mundo do melhor modo possível”. Não, não poderia dizer que tenho esse otimismo. No mundo, nada corre tão bem assim, muito pelo contrário...os jornais estão aí pra nos mostrarem o que é e o que está acontecendo pelos quatro cantos do mundo e ninguém melhor do que nós mesmos pra sabermos o que acontece dentro das nossas casas....
Continuei encadeando meus pensamentos... A palavra otimismo está na ordem do dia. Todos estão e são muito otimistas...Ouvimos frequentemente na mídia e nos bate-papos de esquina...”Estamos otimistas em relação ao governo”, “Cresce a cada dia o otimismo na economia brasileira”, “Estou otimista, meu time de futebol será campeão”, “O otimismo cresce, o pobre vive hoje melhor do que em épocas anteriores”, “Estou otimista, este tratamento vai acabar de vez com a minha celulite e estrias”...Tanto otimismo, tanta verborragia, ou melhor, tanta hipocrisia...talvez nem seja hipocrisia, talvez seja o emprego exagerado da palavra e o desconhecimento do seu significado..talvez seja a palavra da moda...talvez a necessidade das pessoas se sentirem mais felizes, sei lá... Não, não tenho esse otimismo vazio e quando me dei conta, estava refletindo na minha maneira de encarar a vida e a mim mesma. Não tenho vocação pra monja e nem pra meditações, mas pensei bastante e ainda penso, até que uma palavra me aflorou à mente e que muito me agradou....E N C A N T A M E N T O....”É isso!!”, pensei. Sou encantada pela vida, um encantamento irrestrito, com todos os seus significados. Mais uma vez fui ao dicionário e lá estava dentre outros...”Encantamento: arrebatamento, fascinação,magia, estar maravilhado, enlevado,seduzido...”. Era tudo o que eu queria ler. Realmente sou encantada, fascinada pela vida, pela magia do fluir vital, pelos milagres que, de tão simples, muitas vezes nem os percebemos. É maravilhoso presenciar e respeitar os fenômenos da natureza, é arrebatador acompanhar uma gestação, o nascimento de um bebê e vê-lo transformar-se num homem, é fascinante atestar a inteligência e criatividade humana no tocante à ciência, à vida social, às artes...Não me importam as explicações científicas, importa-me, sim, a maneira como vejo tudo isso, como sinto o mundo. Sim, sofro de um encantamento contumaz pela vida e sinto-o na pele e na alma. Não me incomoda se disserem que esse encantamento é irreal, é um encantamento autêntico de pés no chão, consciente, meu, particularmente meu e que traz a minha assinatura.”Tô nem aí!”. Quero continuar plenamente encantada, mesmo sabendo das mazelas do mundo, dos seres humanos e das minhas próprias . Para quem disser que isso é fantasioso, vou torná-lo mais fantasioso ainda. Nesse meu encantamento sei que príncipes, geralmente, transformam-se em sapos e seus lindos cavalos brancos em dragões que lançam fogo pelas ventas...sei que belas princesas podem passar a ser rainhas rabugentas, feias e mal humoradas, sei que um sorriso e uma palavra gentil podem significar interesses escusos e por aí vai....
Tenho consciência das dificuldades do mundo e, principalmente, das minhas.Por isso mesmo, quero fortalecer o meu encantamento,nem que seja um pouquinho apenas, contagiar os que comigo convivem com uma palavra amiga, um gesto de incentivo, tentar fazer com que alguns minutos de convívio tornem-se mais leves. Talvez seja essa a pequena contribuição dada por mim para que a minha passagem por esse planetinha não tenha sido em vão. São essas pequenas contribuições, esse nosso constante interagir que pode nos tornar cada vez mais humanos, mais felizes...mais irmãos!!!....

RETRATOS X FOTOGRAFIAS







Gosto de rever retratos.
Dizia-se, antigamente, que máquinas de tirar retratos eram sequestradoras de almas.
Olho retratos recentes na tentativa de resgatar emoções que neles ficaram guardadas.
Em vão...Ah! essa era digital, onde tudo pode ser descartado....
...de pessoas...fotos...a emoções....
Vou aos retratos antigos, verdadeiras máquinas do tempo.
Esses sim...chamam-me, dão-me as boas-vindas e convidam-me a reviver épocas preservadas.
Levo-lhes, como presente, o meu colorido, ao que eles logo dizem:
“Não, aqui o tempo é eterno e real. Aqui o tempo tem cheiro e sabor de tempo....
Aqui o tempo tem som próprio e nada pode ser alterado, da cor ao toque das suas mãos. Entre e encontre-se com você mesma. Eis a sua casa, o seu tempo e o seu templo”
E como num verdadeiro “país das maravilhas”....
....volto a ser criança...saltitante, bem protegida, sem medos e de coração puro
....numa outra cena, já sou a adolescente que descobre o mundo, o amor e plena de sonhos realizáveis (que eu pensava, todos fossem)
....mais adiante, adulta, mas com a certeza de que o mundo, o meu mundo era cor-de-rosa e que a realidade era realmente real...e o meu coração..........ingênuo
Em cada retrato, um filme, uma situação e eu, ao mesmo tempo, a personagem principal e platéia de mim mesma.
Tento fazer o mesmo com as fotos digitais (não sei porque, mas a palavra “retrato” não combina com a era digital)...mas estas, embora de última geração, são tímidas, não são boas anfitriãs, não me permitem interagir...
É como se, de cada foto, saísse uma enorme mão que encostada ao meu peito, gritasse:
“Fique aí, não se aproxime, apenas veja!!”
Como são tolas, têm medo de serem vistas e depois...simplesmente esquecidas (apagadas seria o termo correto) e desaparecerem a um leve e simples toque de um mínimo botão
Não me conhecem, não sabem que meus sentimentos são da era paleolítica...são gravados em rochas e nem a erosão do tempo consegue tocá-los.
Contento-me em apenas, observá-las à distância.
Peço ajuda à alma e ao coração e são eles que, junto a cada cena vista, me gritam bem alto todos os créditos...
....créditos de tantos filmes recentes, mas que, com certeza, serão eternos e para sempre ficarão na história, na minha história.....

terça-feira, 4 de maio de 2010

...PALAVRAS INSENSATAS....


As palavras sairam assim....
......de cabeça pra baixo,insensatas
..........e sem darem atenção ao sentimento
Fizeram estrago
Briguei com elas, impedindo-as de palavrear
Os sentimentos, inconformados com as palavras, tentaram se defender
....criaram asas para voos desorientados
Aprisionei-os no peito
Conclusão:
As palavras se revoltaram....
....bloquearam minha garganta e estão em greve
Emudeceram-me completamente
Os sentimentos, até agora, espremem-se e tentam fugir...
Mas só a tristeza e a angústia conseguem, aos poucos, escapar........
...em forma de gotinhas d’água que se perdem pelo meu rosto
....e deixam um gosto amargo, não na boca, mas na alma
E agora, faço o quê?
Peço ajuda aos meus pés
Que eles me levem para um lugar onde não precise de palavras e que deixe os sentimentos tão tontos, mas tão tontos...
....que logo caiam em sono profundo...
...e que me adormeçam também
Um sono sem sonhos......

....DIÁRIOS DE CORRIDA...HUMAN RACE....25/11/2009


Será que tudo que vira rotina, torna-se apenas uma mera rotina e perde o encanto? Quando o coração palpita mais forte, o encantamento persiste, insiste e existe.... Amar, escrever, ler, apreciar e usufruir do belo da vida nunca perde a magia e o encanto é sempre renovado. Com as corridas é igual. A cada corrida, a expectativa, aquele “quê’ de ansiedade se fazem sempre presentes. A véspera transforma-se...os cuidados com o que se deve ou não comer e o descanso falam mais alto. A noite parece interminável, o sono esconde-se com medo que o amanhecer chegue de mansinho e apronte alguma comigo...Bom caráter, esse sono, heim....O coração, apreensivo, entra em aquecimento bem antes da hora. É como se o sinal de alerta estivesse numa interminável contagem regressiva...Aos pouquinhos, muito aos pouquinhos, o dia vai chegando e espantando a noite que se afasta pra adormecer os que estão livres da adrenalina. E lá vem o mesmo ritual.....a roupa, o boné, o frequencímetro, o chip já no tênis, o bloqueador solar espalhado por todo o corpo, os sachês de mel pra manter a glicose circulando e aquelas “coisinhas’ que para uma mulher fazem o diferencial...o batom, os brincos, a pulseira, a colônia apropriada, o lenço amarrado na bolsa...Ufaaaaaaaa!! Afinal, é uma corrida ou uma festa? É uma festa. Nada pode ser esquecido ou deixado pra trás...e o coração em ritmo cada vez mais acelerado e a respiração ofegante até que...chego ao local da corrida. Pronto, a visão do pórtico da largada e dos atletas que estão também chegando, funciona como um verdadeiro relaxante...a respiração vai se normalizando, o coração começa a se poupar, já sabedor da missão que o espera, os olhos esquecem o relógio, uma conversa aqui, outra ali, os risos, as experiências sendo partilhadas...e a hora “H” vai se aproximando...
Na Human Race algo diferente me chamava a atenção.....o colorido do ambiente...tudo em vermelho e, imediatamente, associei essa visão ao sangue que, naquele exato momento, fervilhava nas veias de todos....Os corredores, como autênticos glóbulos vermelhos, daríamos vida aquele percurso de 10 km que, em poucos minutos, ia se transformar numa gigantesca veia, presenteando o cenário, bonito por natureza, com mais vida....E assim, íamos todos nos dirigindo pra largada...Enquanto isso, lá no céu, o Sol se debatia pra tentar convencer os deuses corredores que aquilo era injusto com ele...Ele,o astro-rei, vermelho por natureza, ser obrigado a se esconder, a ficar em último plano...Não, com isso ele não se conformava. Foi quando num ímpeto, Hefesto, o deus do fogo, numa baforada gigantesca gritou...”Vai, a festa também é tua, acompanha-os, és o rei e eles teus súditos”. E assim aconteceu...O Sol chegou pra participar com força e disposição. Numa temperatura-ambiente de 32 graus, a dos atletas, certamente com o esforço, ultrapassaria os 40...e lá fomos nós, cada qual no seu ritmo mas com a mesma garra e vontade de vencer duas batalhas...a batalha dos próprios limites e a batalha pra conseguir driblar a força daquele que reinava com toda força e calor...o SOL......A festa estava apenas começando.......