domingo, 11 de abril de 2010

MEIA MARATONA INTERNACIONAL DO RIO DE JANEIRO...6/SETEMBRO/2009



A noite parecia interminável. Nada do céu se alaranjar. Só cochilei. Meu coração, apressado como sempre e exagerado nas emoções, parecia estar em pleno aquecimento. Dizia-lhe eu: “Aquieta-te, descansa!” Mas ele não me dava ouvidos e parecia acelerar mais. Tentava acalmá-lo com uma respiração controlada, mas...impossível...E assim, o céu, aos poucos, foi se alaranjando, um alaranjado meio sem viço, com nuvens acinzentadas...E fui amanhecendo também.Vesti-me e tomei um reforçado café da manhã. E lá fui eu com o coração, agora em ritmo de marcação de uma escola de samba se preparando para um desfile. O céu continuava nublado, dei um alô aos deuses corredores do Olimpo e eles me responderam com uns chuviscos oportunos. O acordo estava feito.
Cheguei ao local determinado pra largada. O movimento imenso. Uns conversavam, outros se alongavam, outros se aqueciam..não importava, todos os olhares tinham algo em comum, a expectativa pelo grande momento, a largada com um único intuito, correr os 21 km, num percurso considerado um dos mais charmosos do mundo. E eu estava ali pra participar desse evento. E o grande momento se aproximava e...chegou....Era tanta gente, que quando passei pelo pórtico da largada, já se tinha passado quase meia hora da largada oficial. Agora, o chip amarrado no tênis começava a fazer a minha cronometragem..
E lá fui eu, com calma, pois os três primeiros quilômetros nada mais eram do que uma imensa subida. Não dá pra explicar o que acontecia dentro de mim...a paisagem fantástica, o povo à beira da estrada aplaudindo, saudando aquelas pessoas que, de um momento pra outro, se tornaram o alvo das atenções, protagonistas de uma peça real, vivenciada num palco à céu aberto,mais do que iluminado, abençoado pela mãe natureza. O que se passava pela minha cabeça? Não sei, era uma profusão de sentimentos, era como se eu estivesse numa conversa interminável com o meu coração, com as minhas pernas e todos os meus músculos. A cada quilômetro ultrapassado,uma injeção de ânimo.Não me lembrava dos quilômetros que faltavam, mas sim dos que já haviam sido conquistados.
Durante todo o percurso, as palmas, os gritos animavam...eram corredores e platéia interagindo. Algumas vezes, eu ouvia “Isso, Maria!” e pensava...”bem que podiam falar o meu nome também”...e só depois é que me lembrei que o nome que estava junto ao meu número de peito era Maria, meu primeiro nome.
Chegando próximo ao quilômetro 18, sentia-me como que anestesiada, parecia que o coração batia nos pés e os pés corriam no peito. Fui racional e pensei..”Tenho que ter calma, afinal estou aqui pra ser feliz,o coração precisa desacelerar” e fiz uns dois quilômetros caminhando rápido.Ao ver a marca do quilômetro 20, acelerei novamente e uma emoção quase incontrolável tomou conta de mim. A garganta deu um nó e soluços e lágrimas vieram à tona começando uma briga com a respiração. Era a hora de administrar o psicológico...ou chorava e parava...ou engolia o choro e continuava a correr. Optei pela segunda e ...lá estava o quilômetro 21. Pus mais velocidade e..CONSEGUI. Ultrapassei o pórtico da chegada e, então, não deu pra segurar a emoção, liberei os sentimentos e uma única palavra ecoava por todos os meus poros...”consegui”. Encostei-me na grade e chorei.Uma moça perguntou se eu estava passando mal. Respondi: “Estou passando muito bem, sou vitoriosa”.
Devolvi o chip e recebi a medalha. Olhei-a, encostei-a ao peito e, silenciosamente, fiz uma oração. Agradeci a Deus e ofereci a medalha a todos os amigos que espalhados em tantos lugares, estiveram torcendo por mim, correndo comigo,me incentivando.
Cheguei bem, as pernas bambas e o coração os poucos foi se aquietando com a sensação de trabalho bem cumprido. Olhei para o céu e dei uma piscada de olhos para os deuses corredores. Eles foram impecáveis, convenceram o sol a descansar. A orla encheu-se de brilho. Mais de 17000 sóis, cada um com sua luz, seu colorido, alimentavam a manhã de alegria e da certeza de que vale a pena lutar e correr em busca de um sonho, seja ele na pista ou na vida.

2 comentários:

  1. ya lo creo que vale la pena correr tras un sueño
    y mas cuando ese sueño esta lleno de felicidad ,esa es la mejor corrida de tu vida

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  2. És a maior Lu!
    Tens uma força interior capaz de mover montanhas e admiro-te por isso:)
    Beijos de luz

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