quinta-feira, 22 de abril de 2010


DIÁRIOS DE CORRIDA....CIRCUITO DAS ESTAÇÕES ADIDAS, ETAPA VERÃO - 6/DEZEMBRO/2009

Prometi que a cada corrida, escreveria algo alusivo à mesma. Que palavras usar para definir cada emoção vivida sem ser repetitiva? Impossível! Emoção, cada uma é uma, para quem as vivencia e defini-las todas as vezes de forma criativa, é trabalho árduo....Dessa vez não me deterei na corrida em si, mas no antes e no depois, no ir e no vir....
Realmente, há mundos paralelos....enquanto um descansa, dorme, o outro fervilha. E assim são as madrugadas de domingos vivenciadas dentro dos transportes coletivos. Peguei o primeiro ônibus antes das cinco e meia e, não riam....fui em pé. Descobri que é dentro de um ônibus, antes do amanhecer, que diferentes tribos se encontram...a tribo que vem do trabalho, sonolenta (bem, eu acho, né...), a que vai para o trabalho (seja ele qual for...), a tribo “barra-pesada” vinda dos bailes, a tribo do “eu sozinha” que vai correr...e outras que nem faço idéia que nome possa lhes dar .... Silêncio? Nada disso, um falatório só...a menina-adolescente que jura, no próximo baile, levar uma lâmina escondida nos cabelos (no meu, nem um mísero piolho eu conseguiria esconder).... as risadas de todos quando um sonolento, não se aguentando, caiu do banco..... um lá atrás que pergunta algo ao que estava lá na frente..... outro que grita ao motorista pra parar naquela determinada esquina...e por aí vai.... Viagem animada e eu ali, quietinha, rezando pra estar invisível a todos.
Desço do primeiro ônibus no ponto final e para abrir meus horizontes quanto aos itinerários, perguntei a um motorista que opções eu teria pra chegar ao Aterro do Flamengo. Foi quando uma senhora, fiscal da empresa, veio na minha direção e disse: “Lucinda, que surpresa alegre te encontrar depois de tantos anos!” Fiquei sem ação, não a reconheci e ela mais do que depressa, : “Você foi professora do meu filho, o “X”, lembra? “ Numa verdadeira maratona pela memória, lembrei-me dela e do filho (um reencontro tão distante de casa ou do trabalho não é fácil acontecer), já agora formado e prestes a se casar. Foi um reencontro curto, mas emocionante...Conversamos rapidamente e de acordo com a orientação dela mesma, peguei outro ônibus. E mais uma vez, fui em pé até um pouco antes da Rocinha. Já sentada, vi, ônibus adentro, um par de pernas que deveriam ser maiores do que eu e...que lindas pernas! Um mulherão de quase dois metros de altura sobre um salto de um outro tanto...um monumento vestido com um pedacinho de tecido de uns dois palmos e meio. Os assobios, os “ohsss” se fizeram ouvir e a cândida mocinha foi sentar-se no banco ao lado do meu. Curiosa, queria ver se ela era tão bonita de rosto quanto as suas pernas, mas não queria olhar diretamente, é claro.... Disfarcei daqui, dali e, de rabo de olho...olhei...E em meio a uma cabeleira encaracolada e quase até à cintura, estava.... estava...uma cara masculina...um homem.....e sem maquiagem alguma!!.... Simplesmente, olhei para as minhas perninhas, tão nanicas, tão raquíticas, tão sem encanto se comparadas aqueles pernões imensos... Como pode um homem com aquelas pernas? Hormônios femininos produzidos em laboratório? Mas, e os meus hormônios que são naturais?? Ora, bolas....serão os meus, genéricos ou falsificados??? Ele ou ela, sei lá como falar, encolhia-se no canto do banco demonstrando muito sono e cansaço. (eu de rabo de olho, ia observando). Comecei a pensar na vida que essas pessoas devem levar, nos preconceitos, nas dificuldades... Deve ser muito difícil para eles encontrarem a felicidade, a aceitação... Não, isso não..Neguei-me a pensar e obriguei esses pensamentos a se recolherem. Nessa manhã, apenas pensamentos felizes poderiam habitar minha mente.
Cheguei ao aterro...o ambiente se alaranjando a cada minuto, muita movimentação, figuras bizarras que sempre participam das corridas e lhes dão um ar de descontração e espetáculo, muita alegria...blá, blá, blá....e todos se preparando pra largada que é sempre pontual. Na passagem exata pelo quilômetro quatro, o sol não se aguentou e, de repente, surgiu nos saudando...Foi quando uma voz masculina manifestou seu aborrecimento...” Mas que mer...de sol agora...”. Imediatamente, em pensamento, comuniquei-me com o sol...”Não esquenta, não, amigo,é assim mesmo, nós, humanos, falamos bobagens, mas não é por mal”. O sol entendeu e não esquentou com o que o corredor falou e se recolheu pra não nos esquentar.
Arrepios ao atravessar o pórtico, emoções à flor da pele, blá, blá, blá..... Ainda demorei bastante tempo por ali, vivenciando cada segundo...e voltei pra casa...de ônibus novamente. Não mais em pé, sentei-me ao lado de um rapaz que começou a me perguntar pela corrida e pelo meu desempenho. Começamos a conversar e nesse troca-troca, ele me disse que também tinha participado. Ele já de roupa trocada e eu, ainda com a mesma, fiquei sabendo que é um maratonista campeão e que nessa corrida havia conquistado o terceiro lugar....Encantei-me com a história dele, um menino pobre vindo da Paraíba, suas dificuldades na vida e pra encontrar patrocínio, sua disciplina nos treinos (segundas, quartas e sextas, 15 km de corrida de manhã e mais 15 à tarde...terças e quintas, 15 de manhã e à tarde,musculação), a felicidade de subir no pódio já tantas vezes.... Foi um presente pós-corrida muito especial, tenho suas palavras e sua expressão de conquista memorizadas. Que estímulo pra mim!.... Ele desceu do ônibus e eu prossegui pra descer no shopping e almoçar (como eu gosto da minha companhia!) Aproveitei e comprei umas coisinhas, presenteei-me, afinal,era merecedora....E mais um encontro..Encontrei um casal de amigos que já não via há algum tempo e, conversa vai, conversa vem, ele me disse que já não corria há mais de 10 anos e que estava entusiasmado com o meu entusiasmo...Recebi hoje um telefonema da minha amiga e ela me disse que na segunda-feira, o marido tinha voltado a caminhar e que logo recomeçaria na corrida..Fiquei imensamente feliz com isso....
Essa corrida foi mais que uma corrida, foi um ir e vir, totalmente alaranjado, com encontros, reencontros, momentos únicos e muita injeção de ânimo, pra mim e pra quem, por acaso, cruzou o meu caminho. Que bom....Fui...Corri...Conquistei....e vim....feliz...E já penso na corrida do próximo domingo, dia 13.....E toma mais emoção....Gosto disso...

Um comentário:

  1. las corridas son el motor de tu vida ,hacen funcionar tus emociones,tus sentimientos y lo mas importante le dio sentido a tu vida
    besoss

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