quarta-feira, 31 de março de 2010

HISTÓRIA DESENCANTADA

Sou dona de um reino encantado...
Princesa de um castelo de açúcar por onde passeio minhas fantasias
Meu corpo, protejo-o com uma armadura de ferro, quase inviolável
Escondo-a com vestidos esvoaçantes e imaculadamente brancos
Na despedida do dia, os últimos raios de sol carregam-me para a torre mais alta
Lá, dispo meus vestidos e minhas fantasias
O orvalho da noite derrete o açúcar....
...e o castelo torna-se frio e feio
Tenho apenas uma armadura como morada

Ouço passos pesados, mantenho-me imóvel
O fantasma da noite vem fazer-me companhia
Prefiro não ver-lhe a cara
Ele arranca de mim a armadura de ferro
...e torna-se dono ..... do que me restou....
E, no silêncio doído, entre suas mãos, grito por ti
Como nas histórias encantadas, chegas para me salvar
Sem que o fantasma te perceba, pegas a minha alma, pequena e trêmula
Com ternura, a guardas no teu peito
E abandono o meu corpo, inerte e desfalecido
Fugimos dali num cavalo de sonho numa direção.....
.......que só a nós importa......

Aqui não há badaladas da meia-noite
O canto dos pássaros chamam os primeiros raios do sol
Levas-me, mais uma vez, para o meu reino
Devolves a minha alma aquele corpo adormecido, já com a armadura
(o fantasma de nada se esquece)
Olhas-me e triste....desapareces
Abro os olhos
Visto meus vestidos
Saio da torre
Sou novamente dona do meu reino inventado e do meu castelo de açúcar

Preciso mudar o rumo dessa história
Desfaço-me da princesa e assumo a caneta....
Acorrento o fantasma
Aprisiono-o no calabouço de algum livro velho e esquecido
Entrego o castelo de açúcar a Joões e Marias para que se lambuzem à vontade
Derreto a armadura de proteção da princesa
(já sei....derreto-a e faço as correntes para aprisionar o fantasma)
À princesa, dou-lhe liberdade
Mas...não entendo...
...ela não sai do lugar!....
Está à espera do seu príncipe....
Será que, acostumada às histórias encantadas, esqueceu que “príncipes” não existem?
“Anda, não és mais princesa..... A estrada é tua, estás livre!!!....”
Mas ela não se mexe....
Parada e amedrontada olha para um sapo enfeitado com uma correntinha no “pescoço”.....
Ainda bem....aproxima-se um rapaz de porte altivo que, percebendo o medo da moça, enxota o sapo.....
Os dois se olham, sorriem e seguem pela estrada, caminhando lado a lado....

E lá vem mais outra história...que essa não tenha fantasmas e nem armaduras.....
Chega de histórias encantadas......sem encanto nenhum......

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