....HOUVE UM TEMPO....


Houve um tempo em que eu não me sentia, não me via, não me ouvia
Houve um tempo em que eu nada sabia de mim
Houve um tempo em que uma redoma, que eu pensava ser do mais puro cristal, era minha vestimenta
Houve um tempo em que, nos meus lençóis de seda, sonhos estavam amordaçados
Houve um tempo em que meus pés caminhavam, preguiçosos, em linha reta, sem ousarem virar à esquerda ou à direita
Houve um tempo em que minhas mãos buscavam o...NADA
Houve um tempo em que meu olhar usava lentes embaciadas e tinha imagens desfocadas
Houve um tempo em que minha boca ao dizer “SIM”, acatava a impossibilidade de um simples “NÃO”
Houve um tempo em que meu coração cantava canções de ninar...e isso, sim, era bom
Houve um tempo em que o “EU” não sabia o significado do “SER EU”
Houve um tempo em que o Tempo, cansado de mim, de mim fugiu
Veio o Vento, tomou seu lugar e enfurecido, desconsertou-me
Despiu-me da redoma
Fez voar os lençóis
Pôs brasas sob meus pés
Jogou fora minhas lentes
Fez-me engolir todos os “SINS” já falados
Obrigou minhas mãos a me esbofetearem
Apenas com o meu coração, ele foi generoso.
Permitiu que eu continuasse com as cantigas de ninar e assobiou-me outras para que eu as aprendesse
Enquanto um novo tempo não vem, tento lidar com esse Vento e.........
...ainda desconsertada, vou seguindo, acariciada pelas canções que o meu coração canta
(Lu Lobo)

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