...TEMPESTADE DE ALMA........

O dia se arrastou, cansado, preguiçoso, sem vigor, como que obrigado a ser dia.
O sol boceja e começa a encolher seus braços fracos de luz e calor, querendo ir-se embora. A serra, ali no poente, o espera, meio acinzentada, já não tão verdejante, louca pra escondê-lo de todos e dos mistérios da noite.
O céu lentamente torna-se triste e começa a perder o seu azul. Nuvens de olhos assustadores e bocas enormes vêm chegando e parece que tudo querem devorar. Um vento cortante, de voz rouca e profunda grita uma canção de guerra como se apossando de tudo.
E eu, recostada na poltrona do canto da sala, sinto no rosto uma chuvinha miúda e gotejante. A escuridão encobre o facho de luz do pequeno abajour ao lado.
Como é possível...tantas nuvens, um vento bravio e uma chuvinha tão suave? Aí é que eu reparo! Não, não é chuva! Não, não é a escuridão do tempo! São meus olhos que choram, são minhas pálpebras que se fecham e se apertam... Levanto-me lentamente e vou à janela. Olho para fora e vejo as nuvens, ouço o vento uivante...é uma grande tempestade. O tempo chora comigo, muito mais do que eu.
O que me interessa isso? Pouco me importa o tempo lá fora... Estou em meio à minha própria tempestade. Gota a gota, essa chuvinha miúda consegue inundar a minha alma e tenho medo de me afogar...Falta-me a respiração...Sinto-me fraca, sem forças...Entrego-me ao tempo e deixo-me ir...pouco a pouco como essa chuvinha miúda, gota a gota, lágrima a lágrima...e de olhos fechados, já sem brilho....

http://www.youtube.com/watch?v=442_ue7I1I4&feature=related